O torneiro mecânico Darcy Souza, 86 anos, não acreditava muito nas chances de
seu filho, Luiz Fernando, na disputa de sua primeira eleição à Câmara Municipal
de Piraí, pequena cidade no interior do Rio de Janeiro, em 1982. Para ajudá-lo,
resolveu fazer uma graça com os vizinhos inspirando-se na principal
característica física do filho. Pegou uma tábua de madeira e talhou um pé
enorme. Escreveu "Luiz Fernando Pezão" e o número do garoto na disputa,
pendurando a peça publicitária improvisada no bar mais frequentado do bairro.
O filho do seu Darcy se elegeu vereador, depois faturou duas disputas à
Prefeitura de Piraí (1996 e 2000), virou secretário estadual e desde 2007 é
vice-governador. Principal gestor da administração fluminense, foi ungido pelo
governador Sérgio Cabral (PMDB) como candidato a sua sucessão em 2014.
Responsável pelas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no
Rio, tem excelente trânsito no governo federal e chegou a ser cotado para
assumir um ministério no início da administração Dilma Rousseff - que o adora.
Apesar do currículo, Pezão - 57 anos e calçado nº 47/48 - ainda é um ilustre
desconhecido. Lançado por Cabral em 2010, a viabilidade eleitoral dele ainda é
vista com desconfiança até por peemedebistas.
Para tentar reverter o quadro, Cabral e Pezão colocaram a chamada
pré-campanha na rua depois do 2º turno das eleições municipais. Os tempos do
marketing amador do pai ficaram para trás e, desde o início de novembro, o
vice-governador passou a ser tutelado por profissionais do pacote de comunicação
de Cabral. A FSB Comunicações assumiu sua assessoria de imprensa e o
publicitário e antropólogo Renato Pereira, dono da Prole Gestão de Imagem e
estrategista das campanhas vitoriosas de Cabral e do prefeito Eduardo Paes
(PMDB), já atua como consultor informal da candidatura.
A espontaneidade de Pezão passou a ser regulada, e ele praticamente sumiu do
noticiário. A quase dois anos da disputa eleitoral, a prioridade é evitar
desgastes. Até porque o vice-governador terá dois adversários experientes em
pleitos ao estilo vale-tudo: o ex-governador e deputado federal Anthony
Garotinho (PR) e o senador Lindberg Farias (PT).
Em pelo menos duas ocasiões este ano, por exemplo, o vice-governador fez
questão de fazer elogios a Delta Construções - empreiteira que mais faturou em
obras com a administração Cabral e que se tornou alvo de todo tipo de suspeita
depois que a Polícia Federal revelou, na Operação Monte Carlo, as relações de
sua diretoria com o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
"Ela (Delta) é uma empresa agressiva e por isso tem mais contratos", defendeu
Pezão, no fim de abril, dias antes de Garotinho divulgar em seu blog fotos e
vídeos de Cabral em companhia do dono da construtora, Fernando Cavendish, e de
secretários de Estado em festas e restaurantes de luxo pela Europa.
Fonte: AE - Agência Estado
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