quinta-feira, 6 de outubro de 2016

A queda de Cunha é para inglês ver. Por Mauro Donato


Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o ex presidente da Camara dos Deputados, Eduardo Cunha, usou de artifício surrado: ‘previu’ sua cassação pois ela fortaleceria “o discurso de que houve golpe”. Segundo ele, ela aconteceria obedecendo uma lei de compensação e era inevitável pois “o PT quer minha cabeça”.
Ora, Cunha tomou uma surra de 450 a 10 na noite de ontem. Se os deputados fossem tão convictos do golpe a Camara não tinha aprovado o impeachment de Dilma.
Cunha não foi moeda de troca como alega. Ao mesmo tempo, é sim uma cassação ‘compensação’. É uma encenação grotesca de ‘passar o país o limpo’.
Só ontem 450 deputados acordaram para quem é Eduardo Cunha? Mas como se explica aquela vibração toda na ocasião de sua nomeação para presidente da casa, comemorada como uma final de Copa do Mundo e imortalizada em foto? O que comemoravam?
A milionária campanha de Cunha à presidência da Câmara teve contribuição de empresas cujos setores ele depois defendeu com unhas e dentes no Congresso. Essa relação incestuosa engordava o caixa do PMDB e dava-lhe poder dentro e fora do partido. Essa é a justificativa para a alegria dos deputados naquela fotografia. Com Cunha, as tetas se multiplicavam.
Para o grande público, o marido de Claudia Cruz é personagem recente. Mas deputados sabem que desde o governo Collor ele agia com interesses escusos. “Manda e desmanda na Telerj”, disse em 1992 o finado tesoureiro PC Farias, assombrado com a destreza de Cunha para transações obscenas.
Só ontem a filha de Garotinho tomou coragem para chama-lo de mafioso psicopata? Mas não foi seu pai, Anthony, quem ensinou a Cunha os segredos de avançar na carreira política usando a lábia de pregador evangélico? Só Eduardo Cunha é mafioso? Clarissa Garotinho precisa informar-se melhor sobre o que é máfia. Ela não funciona com uma pessoa só.
Durante todo esse tempo, ninguém bateu de frente com Cunha. Político mais poderoso do país nos últimos meses, foi bajulado por partidos de A a Z. E foi útil até o impeachment. Agora gritam ‘ladrão!’ no microfone? Não me engana que eu não gosto. Seria vergonhoso mantê-lo lá, porém sua queda não explica porque foi o processo mais demorado de todos os tempos (11 meses), nem porque ainda está fora da cadeia.
Que ninguém se entusiasme, portanto, com o resultado. Foi justo, mas está longe de significar uma higienização no cenário político. Vide o que disse no final de semana o ex Advogado Geral da União, Fabio Medina Osório a respeito do atual governo: uma máquina para acabar com a Lava Jato. Ok, não falou nada que qualquer pessoa com um mínimo de bom senso não soubesse desde os primórdios dessa palhaçada toda. Mas é alguém que estava no ninho.
Rancoroso, Eduardo Cunha saiu disparando em Michel Temer. Esperava ‘lealdade’ por ter colocado o golpista na cadeira de Dilma Rousseff. Esperava lealdade? De Temer?? Agora o mais novo cassado diz que vai contar tudo em um livro.
Como não espero lealdade de Cunha, muito menos que algum dia ele irá falar a verdade, não anseio pelo lançamento. Só espero que seus dotes literários sejam melhores que os do poeta Michel. Ele já causou estrago demais no país, que poupe o idioma pelo menos.
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