quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Bombeiros do Rio usam laranjas para driblar lei

Proibidos de ter empresa de segurança contra incêndio, tenentes põem mães como sócias de empreendimento

Empresa Fireforce, na Estrada Fireforce
Foto: Agência O Globo / Gabriel de Paiva
Empresa Fireforce, na Estrada FireforceAgência O Globo / Gabriel de Paiva
RIO — É numa construção de dois pavimentos, com a pintura das paredes gasta pelo tempo, numa vila da Estrada Manuel Nogueira de Sá, em Realengo, na Zona Oeste, que fica a empresa Fireforce, segundo seu cadastro na Receita Federal. A empresa presta serviços de treinamento de segurança no trabalho para brigadas de incêndio. O aspecto do imóvel destoa da imagem do site bem elaborado da firma, retirado nesta quarta-feira do ar logo após O GLOBO fazer contato com dois dos três tenentes do Corpo de Bombeiros responsáveis, de fato, pela Fireforce.
Os telefones de contato na página da internet são dos bombeiros. Para driblar a proibição de que militares não podem ser sócios de empresas, como prevê o Estatuto do Bombeiro Militar, dois puseram os nomes das mães no quadro societário.


Ao perguntar ao tenente Paulo Nascimento, o fato de ele usar o nome da mãe como sócia-administradora da empresa, embora ele e os colegas estejam à frente dos negócios como donos da Fireforce, o bombeiro não respondeu e desligou o telefone. Além dos contatos dos tenentes estarem na página da internet, na qual há informações de que a firma é capaz de dar “ampla consultoria e treinamentos especializados em prevenção e combate a incêndio e pânico, primeiros socorros, plano de escape e abandono de área”, os tenentes Daniel Campos e Daniel Rocha mantinham em sites de relacionamento profissional e pessoal, o link da empresa.
Um listava os cursos que fez na academia militar da corporação. Por telefone, Campos informou que não faz projetos para a certificação no Corpo de Bombeiros. Alegou que trabalha com treinamento. Campos e Rocha retiraram seus perfis dos sites.
O uso da função pública por parte dos bombeiros é comum, como O GLOBO informou nesta quarta-feira, segundo inquéritos do Ministério Público. O vice-presidente do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea) e presidente do Clube de Engenharia, Jaques Sherique, confirma que há bombeiros que são engenheiros civis e fazem projetos submetidos à aprovação do Corpo de Bombeiros:
— Há uma burocracia infundada para se obter o certificado. Há engenheiros que são bombeiros. Como têm formação técnica boa, eles se reformam, mas atuam na engenharia. Além disso, conhecem o caminho melhor para a aprovação. Prestam assessoria. Quem quer aprovação de seu projeto mais rapidamente procura uma empresa que tem alguém da área. Há muitas empresas contando com o trabalho de bombeiros.
Uma das empresas mais antigas do mercado, há 35 anos no ramo, é a Shaft Indústria e Comércio LTDA. Em seu quadro societário, há três coronéis do Corpo de Bombeiros: Nei Monteiro Ferreira, Carlos Alberto Dias e Jaber Ali Sleman, todos engenheiros que já ocuparam cargos de comando na corporação e hoje estão na reserva. Por telefone, Monteiro confirmou ser sócio-administrador, mas lembrou que está fora da corporação.
O Corpo de Bombeiros confirmou que o diretor da Divisão de Segurança contra Incêndio e Pânico, major Edson Lima do Nascimento, investigado pelo crime de concussão (usar o cargo para receber vantagem indevida), de acordo com o MP, foi afastado das funções até a conclusão do inquérito. O coronel Márcio Francisco da Silva, acusado de usar a mulher como laranja de uma firma, foi exonerado em janeiro por rotina administrativa.

Fonte: O Globo

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