RIO — É numa construção de dois pavimentos, com a pintura das paredes gasta pelo tempo, numa vila da Estrada Manuel Nogueira de Sá, em Realengo, na Zona Oeste, que fica a empresa Fireforce, segundo seu cadastro na Receita Federal. A empresa presta serviços de treinamento de segurança no trabalho para brigadas de incêndio. O aspecto do imóvel destoa da imagem do site bem elaborado da firma, retirado nesta quarta-feira do ar logo após O GLOBO fazer contato com dois dos três tenentes do Corpo de Bombeiros responsáveis, de fato, pela Fireforce.
Os telefones de contato na página da internet são dos bombeiros. Para driblar a proibição de que militares não podem ser sócios de empresas, como prevê o Estatuto do Bombeiro Militar, dois puseram os nomes das mães no quadro societário.
Os telefones de contato na página da internet são dos bombeiros. Para driblar a proibição de que militares não podem ser sócios de empresas, como prevê o Estatuto do Bombeiro Militar, dois puseram os nomes das mães no quadro societário.
Ao perguntar ao tenente Paulo Nascimento, o fato de ele usar o nome da mãe como sócia-administradora da empresa, embora ele e os colegas estejam à frente dos negócios como donos da Fireforce, o bombeiro não respondeu e desligou o telefone. Além dos contatos dos tenentes estarem na página da internet, na qual há informações de que a firma é capaz de dar “ampla consultoria e treinamentos especializados em prevenção e combate a incêndio e pânico, primeiros socorros, plano de escape e abandono de área”, os tenentes Daniel Campos e Daniel Rocha mantinham em sites de relacionamento profissional e pessoal, o link da empresa.
Um listava os cursos que fez na academia militar da corporação. Por telefone, Campos informou que não faz projetos para a certificação no Corpo de Bombeiros. Alegou que trabalha com treinamento. Campos e Rocha retiraram seus perfis dos sites.
O uso da função pública por parte dos bombeiros é comum, como O GLOBO informou nesta quarta-feira, segundo inquéritos do Ministério Público. O vice-presidente do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea) e presidente do Clube de Engenharia, Jaques Sherique, confirma que há bombeiros que são engenheiros civis e fazem projetos submetidos à aprovação do Corpo de Bombeiros:
— Há uma burocracia infundada para se obter o certificado. Há engenheiros que são bombeiros. Como têm formação técnica boa, eles se reformam, mas atuam na engenharia. Além disso, conhecem o caminho melhor para a aprovação. Prestam assessoria. Quem quer aprovação de seu projeto mais rapidamente procura uma empresa que tem alguém da área. Há muitas empresas contando com o trabalho de bombeiros.
Uma das empresas mais antigas do mercado, há 35 anos no ramo, é a Shaft Indústria e Comércio LTDA. Em seu quadro societário, há três coronéis do Corpo de Bombeiros: Nei Monteiro Ferreira, Carlos Alberto Dias e Jaber Ali Sleman, todos engenheiros que já ocuparam cargos de comando na corporação e hoje estão na reserva. Por telefone, Monteiro confirmou ser sócio-administrador, mas lembrou que está fora da corporação.
O Corpo de Bombeiros confirmou que o diretor da Divisão de Segurança contra Incêndio e Pânico, major Edson Lima do Nascimento, investigado pelo crime de concussão (usar o cargo para receber vantagem indevida), de acordo com o MP, foi afastado das funções até a conclusão do inquérito. O coronel Márcio Francisco da Silva, acusado de usar a mulher como laranja de uma firma, foi exonerado em janeiro por rotina administrativa.
Fonte: O Globo
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