Marco Túlio Pires
(Thinkstock)
"Não é pelo amor às baleias ou pássaros que queremos preservar o planeta. Uma economia predatória, que gasta sem limite os recursos naturais, destroi as bases do que se entende por uma economia sustentável."
José Goldemberg, físico e ex-secretário do Meio Ambiente
José Goldemberg, físico e ex-secretário do Meio Ambiente
A carta publicada nesta quarta-feira afirma que a atual posição do governo brasileiro diminui a importância do meio ambiente na Rio+20, inviabilizando qualquer discussão sobre o desenvolvimento sustentável. "Voltaremos a um ponto anterior à Rio 92", disse a ex-senadora Marina Silva, uma das signatárias do documento. Uma versão preliminar das proposições foi entregue ao vice-presidente, Michel Temer, e a versão final será encaminhada à presidente Dilma Rousseff.
Um dos pontos mais criticados pelos especialistas é a falta de um plano de medidas práticas que permitam a transição para uma economia de 'baixo carbono'. Uma economia de baixo carbono é aquela que usa fontes de energia renováveis, como solar, eólica e hidrelétrica. "Emite o mínimo de gás carbônico e outras substâncias que aceleram o efeito estufa", disse Ricupero.
O documento afirma que exceto no caso dos favorecimentos a aparelhos da linha branca em 2008, como geladeiras, fogões e máquinas de lavar, de maior economia de energia, o Brasil praticamente ignorou a questão climática nos pacotes de estímulos adotados desde então. "As políticas econômicas e industriais devem ser coerentes com a transição para uma economia de baixo carbono", defende o documento.
Na opinião dos ambientalistas que assinam a carta, isso ocorre porque há um atraso na implementação e na divulgação de planos previstos na Política Nacional de Mudanças do Clima, estabelecida em dezembro de 2009. As medidas seriam capazes de coordenar as políticas climáticas, industriais e de transporte de maneira integrada.
Destaque ao ambiente — Os que assinam a carta também criticam a possibilidade da Rio+20 não dar o devido destaque para a questão ambiental, "a mais importante", dizem. Para eles, a degradação do meio ambiente impede o desenvolvimento econômico e o social. "Não é possível falar de desenvolvimento sustentável sem resolver a questão do meio ambiente", disse Ricupero.
O governo brasileiro, por outro lado, defende que a conferência trate igualmente dos problemas sociais, econômicos e ambientais. A justificativa para não dar destaque às questões climáticas, por exemplo, seria a existência de uma conferência específica para isso (a próxima será em novembro, no Qatar).
"Se não discutirmos com ênfase os problemas ambientais na Rio+20 voltaremos a um ponto anterior à Rio 92 - seria um retrocesso", disse Marina Silva, ministra de 2003 a 2008. "Se destruirmos as fontes de onde tirarmos energia renovável, o social e o econômico estão condenados", disse José Goldemberg, físico e secretário do Meio Ambiente durante o governo Collor.
Pragmatismo — Goldemberg defende uma visão pragmática de proteção ao meio ambiente. "Não é pelo amor às baleias ou pássaros que queremos preservar o planeta", ponderou. "Uma economia predatória, que gasta sem limite os recursos naturais, destroi as bases do que se entende por uma economia sustentável."
O físico afirma que o Brasil poderia se sair bem naturalmente, dado a quantidade de recursos naturais à disposição do país e de sua matriz energética renovável.
De acordo com Ricupero, a intenção não é ser partidário. "Ficamos decepcionados com o posicionamento oficial do Brasil na Rio+20 e oferecemos uma nova visão, livre de partidos", disse.
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Fonte: Veja
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