quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Tiroteio no Fórum de Bangu, no Rio, mata uma criança e deixa uma mulher e dois policiais feridos


Cristina Indio do Brasil
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - A Polícia Militar (PM) do Rio de Janeiro informou que quatro homens armados entraram no Fórum de Bangu, na zona oeste da cidade, para tentar resgatar um preso que ia prestar depoimento na tarde de hoje (31).

De acordo com informações do 14º Batalhão da PM, houve troca de tiros com os policiais militares que fazem a segurança do fórum.

Segundo a PM, durante o tiroteio uma senhora e uma criança foram feridas. O menino, de 8 anos, de acordo com o Corpo de Bombeiros, morreu. No tiroteio, dois policiais também foram feridos.

Concentração de protesto no Rio tem black blocs e poucos globais

Cerca de 200 pessoas se concentram nesta quinta-feira em frente ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), no centro da capital, para o protesto intitulado de Grito da Liberdade, que pede a libertação de pessoas que foram presas em manifestações anteriores. O ato foi convocado pela internet por um vídeo que conta com a participação de diversos artistas globais, como Marcos Palmeira, Mariana Ximenes, Camila Pitanga e Wagner Moura. A concentração começou as 15h, e uma hora depois, apenas a atriz Leandra Leal, do time do primeiro escalão da Globo, tinha circulado pelo local.
Cerca de 50 policiais acompanham a movimentação no local. Os manifestantes pretendem passar pela Assembleia Legislativa (Alerj) e descer a avenida Rio Branco até a Candelária, ponto final do protesto. A convocação do ato sustenta que a manifestação será pacífica. Por volta das 16h40, integrantes do grupo Black Bloc chegaram ao local.
O ator Luis Henrique Nogueira, que participou da novela Saramandaia, frisou que é preciso que os manifestantes passem suas demandas de forma pacífica. Os distúrbios ocorridos em protestos anteriores acabaram afastando muitas pessoas dos atos, observou Nogueira.
“Todas as camadas da sociedade demoraram a entender o que estava acontecendo. Quando vimos que o Estado não estava sabendo lidar com isso, nos juntamos e fizemos essa reunião. É uma tentativa de paz e de que todas as partes dialoguem sem violência”, afirmou.
Um texto postado no Facebook, que é atribuído ao grupo Grito da Liberdade, pede que haja o “fim do monopólio da mídia, principalmente pelas Organizações Globo”. Nogueira, que ressaltou não ter contrato com a emissora, pontuou que o que está sendo levantado é a participação da imprensa neste processo.
“Na realidade, discute-se o papel da imprensa, e ela mesma está tentando entender essa situação. As questões se ampliaram. Não sou contratado da Globo, e não tenho nada contra nem a favor da emissora”, disse.
A atriz Teresa Seiblitz disse estar no local para protestar contra prisões que classificou como “arbitrárias”. Sobre atos de vandalismo, ela comentou estranhar que a polícia nunca esteja presente quando há quebra-quebra. “Estou aqui por ser uma cidadã. Eu sou contra o sectarismo, mas é uma questão delicada, claro. Comprei um apartamento para mim com o que ganhei numa novela (da Globo). Então, é algo complicado”, disse.



Fonte: Portal Terra

OGX deverá dar um dos maiores calotes internacionais

Bancos serão prejudicados indiretamente
A recuperação judicial da OGX poderá ficar marcada como um dos maiores calotes internacionais já dado por uma única empresa. De acordo com matéria do jornal Estado de São Paulo, se o pedido for aceito, o abalo atingirá o mercado internacional de bônus e indiretamente os bancos, embora nenhuma dessas instituições apareçam como credores da empresa. Alguns fundos, como BlackRock e Pimco estão entre os maiores perdedores.

Do passivo a descoberto da empresa, que chega a R$ 11,2 bilhões, cerca de R$ 7,5 bilhões são devidos aos detentores de bônus e aproximadamente R$ 2,4 bilhões à OSX, empresa naval que também pertence a Eike Batista, e que deve aos bancos R$3,5 bilhões. O passivo total da OSX é de R$ 5,3 bilhões e na lista dos bancos que tem empréstimos com a companhia estão o Itaú BBA, ING, Santander, DVB Group, além de Caixa Econômica Federal e BNDES que alega possuir garantias. Recentemente, o Banco fez um empréstimo ponte de R$ 418 milhões para a OGX .

Fonte: Jornal do Brasil

Dilma peita Renan e ameaça romper com PMDB

Edição247-Gisele Pimenta-Frame-Folhapress /  Bia Fanelli-Folhapress / Divulgação:
Presidente avisa que iniciativa do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), de colocar em votação projeto que garante a autonomia formal do Banco Central, com mandatos fixos para a diretoria, seria encarada como rompimento com o Planalto; cúpula do partido reagiu atônita; governo apontou ainda suposta retaliação pela não nomeação de Vital do Rego (PMDB-PB) como ministro da Integração Nacional; em seu blog, José Dirceu também condenou autonomia do BC

Uma iniciativa do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Congresso Nacional, abriu uma crise política grave na relação entre o Palácio do Planalto e seu principal aliado, o PMDB.

Decidido a levar adiante um projeto que assegura a independência formal do Banco Central, com mandatos fixos para os diretores, Renan e a cúpula do PMDB receberam um recado do Planalto: o gesto seria considerado um rompimento da aliança. Fontes palacianas apontam ainda suposta retaliação pela não nomeação de Vital do Rego (PMDB-PB) como ministro da Integração Nacional.

Leia abaixo informação do Painel da Folha:

Na base da ameaça

A cúpula do PMDB recebeu "atônita" recado de emissários do Palácio do Planalto de que, se Renan Calheiros (PMDB-AL) levar adiante o projeto de Francisco Dornelles (PP-RJ) de autonomia do Banco Central, o movimento será considerado "ruptura" com o governo. A mensagem hostil surpreendeu peemedebistas, uma vez que Michel Temer já havia conversado antes com Renan, a pedido de Dilma Rousseff, para "baixar a bola" do projeto, com o que o senador teria assentido.

Meteorologia Até ontem à tarde, no entanto, Renan ainda demonstrava a colegas no Senado disposição de colocar o projeto em votação, embora auxiliares do Planalto afirmem ter recebido recado do senador de que o texto seria engavetado.

Em seu blog, o ex-ministro José Dirceu também condenou a proposta de Renan. Leia abaixo:

Depositário da soberania popular é o presidente, e não a diretoria do BC

O projeto que dá autonomia operacional e fixa mandato de seis anos para os dirigentes do Banco Central voltou a ser discutido no Senado. Cabe a pergunta: o povo troca de presidente, de partido e de programa econômico, mas o BC continua com a mesma orientação do governo anterior?

Quem indica o presidente do BC é o presidente, e cabe ao Senado da República aprová-lo, mas ele tem autonomia e independência para definir o que há de mais importante para o país, para seu futuro? Independência de quem? Do presidente e do governo? Mas estes são os depositários da soberania popular, assim como o Congresso Nacional. E não a diretoria do Banco Central.

Não há necessidade de lei nenhuma para o BC exercer o seu papel – no nosso caso, errado: o controle da inflação sem a contrapartida do emprego e do crescimento –, definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Este, sim, poderia ser ampliado. Hoje é composto apenas dos ministros da Fazenda e do Planejamento e do próprio presidente do Banco Central.

Nos Estados Unidos, como aqui, o presidente exerce seu papel ao indicar o presidente do BC e definir a política econômica, via CMN, no caso da monetária. Ao Banco Central, cabe cumprir seu papel e se submeter, como todos, ao contraditório, à crítica pública, às pressões tanto do mercado como do Congresso, a quem deve prestar contas constitucionalmente, da mídia, dos partidos, do próprio governo.

Cabe ao BC dialogar com o presidente e os ministros do CMN, dentro sempre da política econômica definida pelo chefe do Executivo e pelo governo.

Votação

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que pretender votar até o fim do ano o projeto de autonomia operacional e mandato fixo do BC. Ele afirmou que vai votar mesmo com as resistências do governo.

Renan

Em artigo para o 247, o presidente do Senado expõe seus argumentos para a proposta. Leia aqui.


Banco Central independente


Renan Calheiros
RENAN CALHEIROS 31 de Outubro de 2013 às 09:14

Não se conhece presidente de banco central que não sofra pressões de seus governos. Para funcionar como guardião da moeda, os dirigentes do BC precisam de autonomia



Este ano criamos um conselho para regulamentar dispositivos da Constituição que, mesmo após 25 anos, não foram normatizados. Depois de fixarmos os direitos trabalhistas dos empregados domésticos é hora de entrarmos no sistema financeiro.

Neste capítulo devemos deliberar sobre a autonomia e a fixação de mandatos para o presidente e diretores do Banco Central. O Brasil é o único país, entre os que adotam metas de inflação, cuja diretoria de Banco Central não tem mandato fixo.

Não se conhece presidente de banco central que não sofra pressões de seus governos. Do ponto de vista eminentemente técnico, há uma incompatibilidade entre o que pretende um governo e a funções de guardião da moeda de um banco central.

No momento em que um banco central possa ser pressionado para fazer o jogo do governo e não mais o da estabilidade da moeda, corre o sério risco de perder respeito e a credibilidade dos agentes econômicos e, com ela, perde a capacidade de conduzir com um mínimo de eficácia a política monetária.

Para melhorar o que já está bom, para um projeto nacional de desenvolvimento autônomo e sustentável, é inevitável que o Banco Central, fortalecido, tenha independência e fique imune a qualquer interesse vindo da esfera política, partidária, governamental ou até mesmo da área privada.

Um Banco Central independente é a garantia de que a saúde da economia será sempre diagnosticada com olhos técnicos, isentos e descontaminada da visão dos governantes. O Banco Central, que é o banco dos bancos, deve seguir políticas de Estado e não de governos. Em sociedades amadurecidas não podem servir como força auxiliar do governo.

O Banco Central foi criado no governo militar, na reforma econômica promovida pelos ministros Octávio Gouveia de Bulhões e Roberto Campos. Ele nasceu como uma autoridade monetária independente e com mandatos não coincidentes com o do presidente da República.

A independência é uma meta sempre perseguida e nunca alcançada desde a criação do BC. Em todos os governos, o BC ganha ares de autonomia, mas sempre por decisão política do presidente. Para funcionar como guardião da moeda, os dirigentes do BC precisam de autonomia.

Os pré-requisitos são o mandato fixo para presidente e diretores e a prerrogativa de só serem demitidos em casos extraordinários. Autonomia não é a garantia de êxito, mas sem dúvida, facilita acertos e eventuais correções de rumo.


Fonte: Brasil 247

Alckmin usou ameaça do PCC para se promover

Edição247-Divulgação :
"Não vou me intimidar", declarou Geraldo Alckmin (PSDB), depois que veio à tona na imprensa a gravação telefônica de um membro da facção criminosa que dizia que iria "decretar" o governador de São Paulo (na gíria, matar); para o ex-secretário de Segurança Pública Antônio Ferreira Pinto, porém, "esse fato não tinha credibilidade nenhuma" e "Alckmin está aproveitando para colher dividendos políticos"; segundo ele, que deixou o cargo há um ano, os grampos já eram de conhecimento da cúpula da Segurança e do Ministério Público desde 2011, mas foram considerados sem "consistência"

Depois de revelado um diálogo entre membros do PCC (Primeiro Comando da Capital) que demonstrava a insatisfação da facção criminosa com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e o ameaçava de morte, alguns comentários na imprensa foram na linha de que as críticas dos criminosos serviram como uma "condecoração" para o tucano – essa palavra em especial foi usada pelo colunista de Veja Ricardo Setti.

Se estavam insatisfeitos com Alckmin, é porque ele combatia a criminalidade. Esse seria o raciocínio. A principal resposta do governador, então, foi: "Não vamos nos intimidar", o que colocaria ainda mais força e credibilidade à sua imagem. O governador anunciou, dias depois, uma força-tarefa para investigar as ações do PCC e a agilidade para cortar sinais de telefone de presídios – algo que já deveria ter sido feito há muito tempo.

Uma declaração crucial do ex-secretário estadual de Segurança Pública Antônio Ferreira Pinto, no entanto, desconstrói essa recente suposta boa imagem adquirida pelo chefe de governo. Em sua primeira entrevista desde que deixou o cargo e foi substituído por Fernando Grella Vieira, há um ano, Ferreira Pinto afirma, ao jornal Valor Econômico, que "Alckmin está aproveitando para colher dividendos políticos com a ameaça do PCC".

Segundo ele, a escuta de um dos membros do PCC que falava em "decretar" o governador era de conhecimento da cúpula da Segurança desde 2011 e não tem credibilidade alguma. "Esse fato não tinha credibilidade nenhuma. A informação é importante desde que você analise e veja se ela tem ou não consistência. Essas gravações não tinham. Tanto que o promotor passou ao largo delas. Eu não vejo uma coerência aí de alguém que exerce um cargo público da relevância que é a segurança de São Paulo", declarou.

Para Ferreira Pinto, a mesma "fanfarronice" atribuída à declaração de Marcola, líder do PCC, de que a facção havia diminuído a taxa de homicídios no Estado - o termo foi usado pelo próprio governador, e Ferreira Pinto concorda - serve para a fala do outro, que disse que ia "decretar" – na gíria, matar – Alckmin. "Foi no mesmo contexto, em 2011. Aí vem o governo e diz 'Não vou me intimidar'. Ele está aproveitando para colher dividendos políticos", conclui.

O ex-secretário também afirmou que "tinha plena ciência" dessas gravações e que o governador não sabia da existência delas justamente porque o fato "não tinha credibilidade". "Lamentável. [O governador] deve ter suas razões. Eu acho que é mais pelo viés político. Porque na hora que diz 'Não vou me intimidar', ele está também dando um "upgrade" para a facção. Está admitindo que há credibilidade numa conversa isolada".

Segundo ele, a resposta de Geraldo Alckmin seria válida se o Ministério Público tivesse alguma gravação "em que realmente o governador estivesse sendo ameaçado de morte". Mas o MP não usou da interceptação "porque analisou", segundo Ferreira Pinto, "e viu que era uma declaração irresponsável". "É como alguém dizer aqui, 'Ah, vou matar o Obama'", exemplifica.

Fonte: SP 247

Crise de Eike freia obra de superporto e traz prejuízos para município do RJ

São João da Barra perdeu R$ 36 milhões em arrecadação no 1º semestre.
O G1 passou 3 dias na cidade para ver consequências sociais e ambientais.


Em 2006, o Grupo EBX anunciou a construção do Superporto do Açu, em São João da Barra, no Norte do Rio de Janeiro, com investimento previsto de R$ 3,8 bilhões. Nos anos seguintes, o município melhorou os índices de desenvolvimento humano, aumentou a arrecadação e viu novas vagas de emprego serem abertas.

Com a queda das ações e os apuros do grupo de Eike Batista, no entanto, as obras desaceleraram, e os reflexos da crise começaram a aparecer. No primeiro semestre de 2013, segundo a Secretaria Municipal de Fazenda, São João da Barra perdeu R$ 36 milhões em arrecadação e viu 1.332 postos formais de emprego – um sexto das vagas do município – desaparecerem.
MAPA São João da Barra 30/10 (Foto: Editoria de Arte / G1)
Em 2011, com o trabalho no porto ainda intenso, o município chegou a ocupar a 18ª posição no ranking de emprego e renda da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). Hoje, ocupa o 34º lugar. O recolhimento de Imposto Sobre Serviços (ISS), que em 2006 era de R$ 1,18 milhão e que em 2011 subiu para R$ 12,7 milhões, dá sinal de que vai recuar em 2013.
O secretário municipal de Fazenda, Ranulfo Vidigal, segue otimista. "Temos uma projeção de que a gente tenha não menos que 30 mil empregos no horizonte de 10 anos. Nós perdemos mil em um universo de 10 mil que foram criados", disse. "Na minha previsão, esta perda é temporária".
Os habitantes de São João da Barra, no entanto, estão preocupados. O G1 passou três dias no município e constatou alguns dos impactos causado pelo declínio das obras do porto na vida dos moradores (assista ao vídeo acima). Andando pelas imediações do canteiro de obras, é possível ver restaurantes e pousadas vazios ou fechados. Comerciantes contabilizam prejuízos, moradores contestam a desapropriação de terrenos e agricultores sofrem os efeitos dos impactos ambientais da construção.
Lançado por Eike Batista, o superporto do Açu, no entanto, não está mais sob controle do empresário. Em setembro, a LLX, responsável pelo porto, assinou acordo com o grupo EIG para um investimento de até R$ 1,3 bilhão na companhia que, ao final, torna o grupo controlador da empresa.
Prejuízos
Entusiasmado com a promessa do crescimento da cidade, Manoel Paulo Ribeiro vendeu um sítio para investir em um restaurante, há seis anos, quando o empreendimento foi anunciado. Ele chegou a ter 11 funcionários, mas, atualmente, mantém apenas quatro. Fornecedor de quentinhas na região, Manoel contou ao G1 que levou um calote de R$ 50 mil da empresa ETE, prestadora de serviços do Grupo EBX.
"Tivemos que pegar empréstimo e estou equilibrando, me arrastando com quatro funcionários para não ter que despedir. Eu já tinha iniciado uma obra de ampliação do restaurante e também não quis parar com a esperança de que no futuro seja mais lucrativo e sem prejuízo. Todo mundo investiu tudo com a chegada deste empreendimento", disse Manoel.
Edmilson Oliveira, responsável pelo departamento jurídico da ETE, confirmou que a empresa está em débito com Manoel Paulo. "Nós confirmamos, mas não reconhecemos este valor. É algo em torno de R$ 38 mil. Estamos em negociação, devemos bater este valor com ele [Manoel] e esse pagamento será  feito no prazo máximo de um mês", disse. A LLX e a OSX, do grupo de Eike, afirmaram que não têm nenhum contrato em débito com a empresa ETE.

Fabrício Salles foi afetado de duas formas. Ele é dono de uma loja de acessórios automotivos em São João da Barra e possui um caminhão que foi agregado por uma empresa na construção do porto. Salles disse que ficou de junho a outubro sem receber pelo aluguel do veículo. Ele só foi receber pelos três primeiros meses de serviço, quantia em torno de R$ 35 mil, no dia 24 de outubro.

"Eu banquei tudo, paguei o motorista do caminhão, cheguei até o meu limite bancando manutenção e funcionário. A empresa pagava tudo no prazo correto. Depois que teve esse problema com o Eike Batista, houve esse atraso. Agora eles estão acertando. Eu entendi a situação da empresa e continuei prestando serviço", contou.
Salles contou que também sentiu os impactos na região através da queda do número de clientes. "Com essa queda nas obras do porto, todos os comerciantes sentiram algum tipo de impacto. Muita gente foi embora e com isso diminuiu a circulação de dinheiro na cidade", lamentou.
Imissão de posse feita pela Codin ns terras da família Toledo; réu consta como ignorado (Foto: Divulgação/ LXX)Na imissão de posse das terras da família Toledo,
réu consta como ignorado (Foto: Divulgação/LXX)
Família Toledo mostra documento para comprovar terras (Foto: Arquivo Pessoal/ Marcos Pedlowski)Família Toledo mostra documento para comprovar
terras (Foto: Arquivo Pessoal/ Marcos Pedlowski)
Impasse nas desapropriações
A desapropriação de terras na região do Superpoto do Açu é motivo de disputas judiciais. Proprietários afirmam que o valor pago pelas terras é injusto e que o processo de desapropriação foi feito de maneira irregular.
Os terrenos para construção do Distrito Industrial de São João da Barra são requeridos à Justiça pela Companhia de Desenvolvimento Industrial do Rio de Janeiro (Codin). Segundo o órgão, depois que a Justiça aceita o pedido, as ações de desapropriação são feitas "após o depósito do valor apurado". Em seguida, a imissão (ato judicial que muda a posse da terra) é realizada, concedendo à Codin a posse das áreas, que por sua vez repassa aos empreendedores. Segundo a Codin, os interessados se habilitam no processo para levantar ou discordar do valor depositado, cabendo ao judiciário a decisão.
Ao redor da construção do porto, é comum ver propriedades com casas demolidas, onde placas sinalizaram que a área agora pertence à Codin ou à LLX. De acordo com a Associação dos Proprietários de Imóveis (Asprim), 1.500 famílias foram desapropriadas. Segundo a Codin, 466 desapropriações foram aceitas pela Justiça e 290 cumpridas com a imissão de posse. Em alguns casos, a retirada das famílias teve apoio da Polícia Militar (veja no vídeo ao lado).

Adeilço Viana Toledo é filho de José Irineu Toledo, herdeiro do Sítio Camará, no 5º Distrito do município. Ele contou ao G1 que no dia em que seu pai morreu, em 1º de agosto de 2013, a Codin desapropriou as terras da família.
"Há 45 anos nós vivemos nesta propriedade. Eles (Codin) invadiram a área nossa aqui, tirando todo o gado que tinha aqui, dizendo que a área agora é deles. Só que até hoje não recebemos nada. E o gado ficou preso na Fazenda Papagaio [propriedade que foi arrendada pela GSA - controlada pela LLX] 75 dias sem comer nada. O juiz agora pediu para a gente tirar o gado. Estramos com um pedido na Justiça para termos a terra de volta. Há dois anos eles fizeram uma vistoria e uma valoração do terreno. Só que é um preço muito baixo e a gente não concorda. Aqui tinha lavoura de quiabo, abacaxi e maxixe. Eram 200 mil frutas colhidas por ano. Tenho 7 filhos que viviam do sustento daqui", disse Adeilço.
De acordo com a LLX, a área foi desapropriada pelo estado, através da Codin, para a implantação do distrito industrial. Segundo a empresa, o valor da indenização foi depositado em juízo e está à disposição dos réus desde 17 de maio, no valor de R$ 742 mil. A empresa desconhece se os réus já se manifestaram no processo para requerer o levantamento ou impugnar o valor ofertado. O documento de imissão de posse fornecido pela LLX ao G1 aponta o réu como ignorado.

O G1 ouviu o desembargador Sylvio Capanema sobre a questão. Ele disse que o fato de o réu ser ignorado pode apontar para uma manobra do autor da imissão. "Sendo ignorado o autor evita que tenha uma constatação de que esse valor depositado em juízo seja ínfimo", explicou.

Através de nota, a Codin esclareceu que "a questão de constar como réu ignorado se deve ao fato de que quando foi realizado levantamento no cartório de Registro de Imóveis, relativo à área em questão, não havia qualquer certidão que indicasse quem seriam os reais proprietáros da área". Segundo a Codin, isto justifica o ajuizamento da ação com a informação de réu ignorado.

A Codin disse ainda que a pessoa deve comprovar a titularidade da terra para receber os valores depositados. A família Toledo apresentou ao G1 o documento (veja na foto acima) que comprova que José Irineu Toledo é herdeiro das terras do Sítio Camará.
Impacto ambiental: salinização
Durante o processo de dragagem para usar areia para aterrar a área do porto, um erro de planejamento teria feito com que propriedades próximas recebecem água do mar e ficassem salinizadas.
Segundo Carlos Rezende, professor titular de Biogeoquímica do Laboratório de Ciências Ambientais Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), o aterramento da área do estaleiro da OSX teve um "escoamento superficial que atingiu algumas áreas fora do empreendimento."
"Quando você faz uma dragagem, tem aproximadamente de 40% a 60% de água e o resto é sedimento. [...] Houve falha no sitema de bombeamento que era responsável por reconduzir a água para a pilha de sedimento. A empresa fez um cinturão de contenção, que deve ter sido subdimensionado. Ou então pode ter ocorrido alguma falha humana que acabou gerando esse sobrefluxo [de água salgada] que escorreu pela pilha [de areia]", explicou Rezende.
Segundo o professor, a Uenf foi alertada por um agricultor que levou uma amostra de água até a universidade, alegando que as plantas de sua propriedade estavam morrendo. "Fomos averiguar o que era e descobrimos que água estava vindo do empreendimento. Medimos vários solos naquela região. Agora estamos medindo o índice de salinidade das propriedades e comparando com áreas próximas para saber a quantidade de terras afetadas", completou.

Segundo Marcos Pedlowski, também professor da Uenf, ainda "não existe tecnologia para dessalinizar solos". Ele afirma que as dunas artificais de areia retirada para aterrar o porto estão espalhando sal na região. "Ela vai ficar sendo espalhada até que alguma vegetação tenha a capacidade de se instalar nela. O que faltou foi uma obra de engenharia de contenção. A área imediata que está no entorno está sendo afetada. Isso acarreta um efeito dramático para quem vive de agricultura. Os compradores do porto têm que saber que eles têm uma herança maldita ali também", completou.

Durval Ribeiro de Alvarenga, de 58 anos, mora em uma propriedade na localidade de Água Preta, no 5º Distrito de São João da Barra desde 1982, onde cultivava abacaxi, cana-de-açúcar, quiabo e maxixe. Com o gado que criava em suas terras, Durval produzia queijo e tirava de 90 a 100 litros de leite por dia.
"Hoje eu não tiro mais, acabou, desde que entrou esse sal. Em novembro apareceu uma água aqui [na propriedade], mãs não houve chuva. Eu fui reparar que a água era salgada quando vi o gado em volta do tanque sem querer beber água e adoecendo. Depois, a lavoura de abacaxi foi murchando, perdi 150 mil pés da fruta, o capim morreu. Eles [empresas do Grupo X] colocaram a água do rio para ver se tirava a água do sal e parece que piorou. Não tem melhora nenhuma. Nunca ninguém me procurou para saber de prejuízo, que eu calculo que seja mais de R$ 1 milhão. A renda de leite era certinha, todo dia, de domingo a domingo. E eu parei com tudo. O gado quer beber água e não tem como. Hoje a propriedade está sem valor. Acabou a renda. E eu quero receber, não posso ficar no prejuízo", reclamou.
O agricultor entrou na Justiça para processar o Grupo EBX, demandando o pagamento de R$ R$ 1 milhão para cobrir o prejuízo estimado.

Em fevereiro de 2013 o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) multou em R$ 1,3 milhão a OSX após identificar a salinização da água no Canal do Quintigute no Porto do Açu.
Além da multa, a OSX terá de fazer a dragagem em três pontos do canal, cujo custo deve chegar a R$ 1 milhão. O órgão também determinou que a companhia deverá ressarcir os agricultores afetados pelo problema. O G1 entrou com contato com o Inea para saber se a multa já foi paga, mas não obteve resposta do instituto até esta publicação.
Em nota, a LLX alegou que a alteração do índice de salinidade do Canal do Quitingute foi pontual, prevista nos estudos de impacto ambiental, e agravada pela restrição de vazão do canal decorrente de recentes obras civis realizadas por terceiros, além de outros pontos de assoreamento, seca e estiagem na região.
A empresa disse ainda que realiza monitoramento constante dos índices de condutividade e salinidade do Canal do Quitingute, cujos resultados são encaminhados regularmente ao INEA (Instituto Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro). Segundo a LLX, este monitoramento comprova que já foram alcançados os índices estabelecidos como padrão para água doce em corpos hídricos, e que estão abaixo de 0,5 ‰ de salinidade, conforme estabelece o Artigo 2° da Resolução CONAMA n° 357/2005. Até o momento não foi identificado nenhum agricultor prejudicado em São João da Barra pela LLX.
Investigação
O Ministério Público Federal determinou a apuração de eventual uso de verbas públicas na implantação de pátios logísticos no Porto do Açu. Com o cancelamento da encomenda de plataformas e a crise do Grupo EBX, o MPF quer cobrar maior transparência na prestação de contas das empresas que podem ter recebido recursos públicos federais para o projeto.

Fonte: G1

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

PMs dizem que foram ordenadas a ocultar provas de tortura a Amarildo

Depoimentos de soldados foram obtidos pelo Bom Dia Rio.
‘Isso não se faz nem com um animal’, disse uma PM, dentro da UPP.


Quatro mulheres que são soldados da PM do Rio de Janeiro dizem que receberam ordens de superiores para ocultar provas da tortura a Amarildo e que foram obrigadas a dar declarações pré-combinadas aos investigadores do caso. É o que revelam depoimentos obtidos com exclusividade pelo Bom Dia Rio e exibidas nesta segunda-feira (28).
Vinte e cinco PMs que eram lotados na UPP da Rocinha já foram denunciados pelo desaparecimento e pela morte de Amarildo de Souza. Treze já estão presos – três se entregaram na quarta-feira (23). O corpo do ajudante de pedreiro ainda não foi localizado.
Durante mais de três meses, as quatro soldados esconderam o que testemunharam na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha em 14 de julho, data do desaparecimento de Amarildo. Só criaram coragem para falar o que viram e ouviram naquela noite após a prisão de parte dos policiais acusados de envolvimento no caso.

Choro no depoimento
Segundo a promotora Carmen Eliza de Carvalho, do Ministério Público (MP), os depoimentos foram marcados pela emoção. “Elas desabaram. Choraram mesmo. E todas falaram a mesma coisa: ‘Hoje, depois de muitos meses, eu vou conseguir dormir.”

Uma das soldados contou que estava dentro da UPP quando ouviu gritos de dor e pedidos de socorro atrás da unidade. Ela disse que foi até a parte da frente da sala e tapou os ouvidos para não ouvir mais o que estava acontecendo. Ao concluir que um homem estava sendo torturado e falou para duas colegas: “Isso não se faz nem com um animal”.

De acordo com a policial, a tortura durou cerca de 40 minutos. Depois, tudo ficou em silêncio. Ela, então, disse ter ouvido risos.

Cronologia do caso Amarildo arte (Foto: Editoria de arte / G1)

A violência contra Amarildo ocorreu atrás de contêineres que servem de base à UPP da Rocinha. Depois da tortura relatada, o local foi transformado num depósito, sinal de que o objetivo era atrapalhar a investigação.

De acordo com o MP, a farsa se manteve por três meses e contou com uma outra estratégia coordenada pelo major Edson Santos, então comandante da UPP. Uma outra soldado afirmou que o major fez uma reunião com os policiais na presença de um advogado. Segundo ela, foi como um pré-depoimento. Todos foram orientados sobre o que deviam dizer aos investigadores, contou.

Segundo a testemunha, após o depoimento em que ela desabafou, o major quis saber o que ela tinha dito. Foi então que o advogado contou para o major que ela havia falado demais.

“Elas tinham muito medo do que poderia acontecer com elas. ‘Vocês não ouviram nada, não teve nada de anormal e Amarildo desceu pela escada’. O tom era esse de orientação. Entenda-se determinação”, afirma a promota.

'Lavagem cerebral', diz promotora
Imagens inéditas obtidas pelo Fantástico mostram uma das reuniões feitas pelo PM, numa calçada no Centro do Rio. Segundo o MP, o homem que aparece de gravata nas cenas é o advogado dos policiais. “É como se fosse uma lavagem cerebral. Ele saiu bem daqui, ninguém ouviu nada. O dia foi normal, nada aconteceu”, diz a promotora.

As policiais que colaboraram com as investigações têm pouca experiência e ficavam encarregadas do serviço administrativo. São PMs que só deram tiros na
academia
, em treinamentos, e que jamais prenderam ninguém.

“O sentimento era uniforme. 'Se estão fazendo isso com aquela pessoa, se a gente for fazer alguma coisa, que que vão fazer com a gente? Porque lá fora temos vários homens armados, todos superiores hierárquicos'”, afirma a promotora.

As soldados disseram que foram obrigadas pelos superiores a ficar dentro da sede, junto com outros colegas de farda. “Todo mundo ouvindo o que estava acontecendo, uma óbvia tortura ali. E aí a Rachel fala: 'Com esse barulho não dá pra trabalhar'. Não é assim: 'O que está acontecendo? Alguém está sendo torturado?' É 'com esse barulho não dá pra trabalhar'", diz a promotora. Rachel de Souza Peixoto pertence ao grupo de 25 PMs que se tornaram réus no caso.

'Resolve', teria dito major
Uma outra policial denunciada, a soldado Thais Rodrigues Gusmão, contou que o major Edson Santos deu uma ordem para o tenente Luiz Felipe de Medeiros, então subcomandante da UPP, também preso: “Medeiros, vai até lá e resolve isso aí.” Nenhum deles demonstrou surpresa com o que estava contecendo atrás do contêiner, disse. Segundo a policial, o tenente passou a fazer perguntas ao homem junto com os outros colegas.

Depois de identificar a participação do tenente Medeiros na sessão de tortura, a soldado Thaís contou ter recebido ordens do major para ir até o Parque Ecológico da Rocinha, que fica ao lado da UPP, e apagar as luzes da área. Thais disse que permaneceu no local por mais de duas horas. Disse que não queria ouvir mais as agressões.

Corpo pode ter saído por telhado
Thais afirmou ainda que ficou no parque com três PMs à paisana que não informaram o que faziam no local. Nesse intervalo de tempo, de acordo com o depoimento de outro policial, PMs da UPP retiraram por um vão no telhado o que se assemelhava a um corpo.

A soldado Thais afirmou que se surpreendeu ao ver o major Edson Santos e cinco policiais descendo do alto da mata. Numa das buscas feitas pela Divisão de Homicídios na Rocinha, cães farejadores latiram muito numa determinada área, o que fez investigadores suspeitarem que o corpo de Amarildo possa ter ficado algum tempo enterrado no local e mais tarde tenha sido levado para fora da comunidade.

Escuta foi decisiva
Nesta semana, os investigadores dizem ter desvendado como foi a participação de cada PM no caso. Uma escuta feita pela polícia, com autorização da Justiça, e revelada com exclusividade pelo Jornal Nacional nesta terça, foi a prova decisiva para a conclusão do caso.

Um homem que se identifica como o traficante Catatau faz ameaças a um policial infiltrado no tráfico e dá a entender que matou Amarildo, conhecido como Boi. A perícia comprovou que esse homem era o soldado Marlon Campos Reis fazendo uma encenação.

Fonte: G1

Justiça federal determina a suspensão das obras de Belo Monte

Decisão foi tomada no sábado pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região.
Empresa ressaltou que todas as obrigações estão sendo cumpridas.

O desembargador federal Souza Prudente, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), acolheu na sexta (25) pedido do Ministério Público Federal (MPF) e concedeu liminar (decisão provisória) que determina a suspensão imediata do licenciamento ambiental e das obras de execução da usina hidrelétrica de Belo Monte, em Vitória do Xingu, no Pará.

Segundo a assessoria do tribunal, a decisão tem validade até que a 5ª Turma do TRF-1 analise o processo, o que não tem prazo para ocorrer.

O TRF-1 destacou que a liminar de Souza Prudente torna "sem eficácia" a licença de instalação da hidrelétrica e a autorização de retirada da vegetação. A licença ambiental só voltará a ter validade, explicou o tribunal, no momento em que ocorrer o "efetivo" e "integral" cumprimento de todas as condições estabelecidas na licença prévia.

O magistrado estipulou multa diária de R$ 500 mil caso a decisão seja descumprida. Responsável pela construção e operação do empreendimento hidrelétrico, a Norte Energia informou ao G1 nesta segunda-feira (28) ainda não ter sido notificada sobre a liminar da Justiça Federal. Conforme a operadora de energia, "todas as obrigações e compromissos da empresa estão sendo rigorosamente cumpridos".

Souza Prudente ordenou ainda que o Banco Nacional da Desenvolvimento Social (BNDES) “se abstenha" de celebrar qualquer contrato com a hidrelétrica enquanto não forem cumpridas as exigências ambientais.

Batalha judicial
Em julho, a Justiça Federal do Pará havia negado pedido do Conselho Indigenistas Missionário para que as obras de Belo Monte fossem interrompidas. A entidade alegava que projetos de geração de energia dentro de terras indígenas deveriam ser executados somente depois da elaboração de leis específicas sobre o assunto.

À época, o juiz Marcelo Honorato avaliou em sua sentença que a paralisação da obra "atentaria" contra a ordem e a economia do país. Além disso, o magistrado considerou que os procedimentos para o licenciamento ambiental estavam corretos.

Fonte: Filipe Matoso e Mariana Oliveira Do G1, em Brasília

Metalúrgicos pedem ao STF suspensão de nova regra para seguro-desemprego

André Richter
Repórter da Agência Brasil 

Brasília – A Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos (CNTM) entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para suspender a alteração na regra para concessão de seguro-desemprego. A norma foi publicada no dia 11 de outubro no Diário Oficial da União. O relator do pedido é o ministro Gilmar Mendes.

Conforme a regra, o trabalhador que solicitar o benefício a partir da segunda vez, dentro de um período de dez anos, terá que fazer curso com o mínimo de 160 horas para receber o pagamento. Antes, o curso deveria ser feito a partir do terceiro pedido de seguro-desemprego.

O curso, com o mínimo de 160 horas, deve ser de formação inicial e continuada ou de qualificação profissional. No ano passado, o Decreto 7.721, de 16 de abril, havia instituído a condicionalidade do curso.

Na ação, a confederação alega que as regras são inconstitucionais, por entender que a Constituição Federal prevê que a única exigência para receber o seguro é a demissão sem justa causa. “O estabelecimento da condição determinada pelo decreto não é só inconstitucional como é impossível de ser cumprida no território nacional, considerando que em uma ou outra capital do Brasil a União instalou curso de formação inicial e continuada ou de qualificação profissional”, argumentou a CNTM.

Emergências médicas serão responsabilidade do Comitê Organizador Rio 2016

Vitor Abdala
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – Um espectador que passar mal ou sofrer um acidente dentro das instalações esportivas dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016 terá assistência médica garantida pelo comitê organizador da olimpíada. Segundo o responsável pelos serviços médicos do Comitê Organizador Local Rio 2016, João Grangeiro, o primeiro atendimento será feito em um posto médico no próprio local.

Em casos mais graves, o espectador será transferido para um hospital credenciado para os Jogos. Se houver a necessidade de atendimento em uma unidade de saúde particular, o paciente terá os custos cobertos pelo comitê organizador, mesmo que ele não tenha plano de saúde. “Ele não tem plano de saúde, mas se pagou um ingresso, será atendido pela gente, desde que o incidente ocorra dentro do perímetro da instalação esportiva”, disse Grangeiro.

O credenciamento das unidades de saúde que atenderão a espectadores, atletas e membros das delegações só será feito mais perto das Olimpíadas. Mesmo antes do processo de credenciamento, o governo do estado está preparando dois centros especializados em traumas graves. Um deles, no Hospital Estadual Alberto Torres, em São Gonçalo, no Grande Rio, já está em funcionamento desde julho.

O segundo será implantado no Hospital Estadual Albert Schweitzer, em Realengo, na zona oeste da cidade. Esse centro ficará bem próximo do complexo esportivo de Deodoro, onde serão realizadas competições como hipismo, mountain bike e BMX, esportes que têm alto risco de acidentes com traumas. “A gente não tem nenhuma intenção de sobrecarregar a rede pública. Mas saber que essa rede está disponível em uma necessidade dá, sem dúvida alguma, um conforto muito grande”, disse Grangeiro.

Além disso, hospitais de campanha com capacidade para realizar cirurgias também poderão ser montados perto de uma das zonas olímpicas (Deodoro, Barra da Tijuca, Maracanã e Copacabana). “A ideia do hospital de campanha é fantástica. Ele vem dar mais tranquilidade na etapa do atendimento do paciente, do atleta. Esses hospitais de campanha podem fazer frente a alguma grande emergência ou a um plano de desastre”, acrescentou.

Os atletas e outros membros das delegações vão contar ainda com uma policlínica que será montada dentro da Vila Olímpica, em Jacarepaguá, na zona oeste da cidade. Integrantes da comissão médica do Comitê Olímpico Internacional (COI) visitaram hoje o centro de trauma do Hospital Alberto Torres. Ontem, eles já haviam visitado o centro estadual de diagnóstico por imagem, no centro da cidade.

Governo proíbe venda casada de garantia estendida

Daniel Lima e Wellton Máximo
Repórteres da Agência Brasil

Brasília - A padronização sobre a venda de seguro de garantia estendida na venda de produtos pelo comércio foi publicada hoje (28) no Diário Oficial da União , as lojas não poderão mais fazer venda casada da garantia estendida conforme decisão do Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP), ligado ao Ministério da Fazenda.

Caso descumpram as regras, as seguradoras que oferecem a garantia estendida pagarão multa que variará de R$ 10 mil a R$ 500 mil. De acordo com a Superintendência de Seguros Privados (Susep), as medidas valerão a partir da publicação no Diário Oficial da União, que deve ocorrer na próxima semana, mas as seguradoras terão até 180 dias para se adaptar às novas normas.

A garantia estendida representa um seguro que o comprador contrata no momento da aquisição de bens duráveis que permite consertos e até a troca do produto em prazo maior que a garantia oferecida pelo fabricante. Atualmente, o serviço é oferecido não apenas no comércio tradicional, mas também nas páginas das lojas na internet.

O Diário Oficial da União também publica resoluções do Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP), que dispõem sobre a atividade de preposto de corretor de seguros e previdência complementar aberta, além de tratar da nomeação e registro. As resoluções organizam as operações das seguradoras por meio de seus representantes de seguros. Outra medida disciplina as operações das sociedades garantidoras.

domingo, 27 de outubro de 2013

Celulares do Rio ganham dígito 9 neste domingo

Agência Brasil:
Números de telefone móvel que têm DDD 21, 22 e 24, no Rio, e 27 e 28, no Espírito Santo, terão um dígito a mais a partir deste domingo 27; até 5 de novembro, as chamadas feitas com oito dígitos serão completadas, mas a partir do dia 6 até 3 de fevereiro de 2014 será ouvida uma mensagem sobre a inclusão do nono dígito e a chamada pode não ser concluída
Agência Rio - Os números de telefone celular do Rio de Janeiro e do Espírito Santo terão um dígito a mais a partir deste domingo (27). O dígito 9 deve ser incluído antes dos números que têm DDD 21, 22 e 24, no Rio, e 27 e 28, no Espírito Santo. O coordenador de numeração da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Afonso Feijó, explica que foi feita "uma grande campanha" para informar todos os usuários sobre a mudança.

"Tem um programa extenso de publicação de notícias, comunicados nos jornais de grande circulação, nas redes sociais, todo o trabalho foi feito. Fora os SMS - serviços de mensagens curtas disponíveis nos celulares - em ondas, cada semana uma operadora faz os envios, está todo mundo avisado. O pessoal de outros estados também recebeu SMS, as grandes empresas que têm PABX - troca automática de ramais privados - que precisa ser modificado e tem contrato com as empresas foram avisadas diretamente por carta e por telefonema".

De acordo com Feijó até o dia 5 de novembro as chamadas feitas com oito dígitos serão completadas, mas a partir de 6 de novembro até 3 de fevereiro de 2014 será ouvida uma mensagem sobre a inclusão do nono dígito e a chamada pode não ser completada.

"Depois do Dia D, que é domingo, tem uma nova onda de comunicações, um reforço que foi programado justamente para alertar as pessoas que não tenham visto. Nos primeiros dez dias as redes vão permitir ligações com nove e com oito dígitos, para os ajustes finos da rede e dar um tempo para os usuários alterarem e atualizarem suas agendas dos celulares. Depois dos dez dias, ele passa a receber uma mensagem informando que deve colocar o nove antes de discar".

A partir de fevereiro, os números com oito dígitos serão considerados inexistentes. Número de telefones fixos e conexões diretas via rádio não serão afetados pela mudança. A Anatel informou que o nono dígito será implementado em todo o país até o fim de 2016. A mudança nos estados do Amazonas, do Pará, de Roraima, do Amapá e do Maranhão será até dezembro de 2014.

Em Minas Gerais, na Bahia, no Piauí, no Ceará, no Rio Grande do Norte, na Paraíba, em Pernambuco, em Alagoas e em Sergipe acrescentam o 9 até dezembro de 2015. A última etapa da padronização nacional, prevista para acontecer até dezembro de 2016, abrangerá os estados das regiões Sul e Centro-Oeste, além do Tocantins, de Rondônia e do Acre.

O DDD 11, da cidade de São Paulo, passou pela mudança em julho do ano passado e em 25 de agosto foi a vez dos demais DDDs do estado - 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18 e 19. O objetivo da mudança é ampliar a disponibilidade de acessos de telefonia móvel, que passa de 38 milhões para 90 milhões de números em cada área de DDD. Atualmente, o Rio de Janeiro tem 23,9 milhões acessos de telefonia móvel, sendo 18,6 milhões no código 21, 3 milhões no 22 e 2,3 milhões no 24. No Espírito Santo, são 3,8 milhões no DDD 27 e 690 mil no 28.

Para os usuários de smartphones, já existem aplicativos gratuitos que fazem automaticamente a atualização da agenda de contatos acrescentando o dígito 9, tanto para os sistemas operacionais iOS e Android como para o Windows Phone.

C/AGÊNCIA BRASIL

Pesquisa mostra maior variação genética do HIV em crianças e adolescentes de SP

Camila Maciel
Repórter da Agência Brasil

São Paulo - Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) observaram uma maior variabilidade genética do vírus HIV em crianças e adolescentes do que a apontada em estudos anteriores feitos com adultos. De acordo com os pesquisadores, isso sugere que o perfil da epidemia está mudando no Brasil, o que pode ter implicações tanto na produção de diagnósticos como na definição de terapias e no desenvolvimento de vacinas. Foram colhidas amostras sanguíneas de 51 soropositivos nascidos entre 1992 e 2009 na capital paulista.

Segundo o coordenador do projeto, professor Sabri Saeed Mohamed Al Sanabani, do Instituto de Medicina Tropical da USP, existem dois tipos (1 e 2) de vírus causadores da aids. O tipo 2 é praticamente restrito ao Continente Africano. O tipo 1, que prevalece no restante do mundo, se divide em vários grupos, sendo os principais M, N, O e P. O grupo M, que causa a grande epidemia conhecida atualmente, por sua vez, possui subtipos. "Há ainda as formas recombinantes, que são a mistura genética de subtipos de vírus", explicou à Agência Brasil.

Estudo publicado em 2011 pelo mesmo grupo de cientistas mostra que o subtipo B é o mais frequente no país. Isso foi atestado com a análise de 113 amostras sanguíneas de homens soropositivos com média de idade de 31 anos e também por meio da análise do DNA viral. Mais de 80% dos pacientes estavam infectados com esse subtipo do vírus. A pesquisa mais recente feita com a faixa etária de 4 a 20 anos, por outro lado, apontou uma prevalência de apenas 52,4%.

As crianças e os adolescentes que participaram do estudo, coordenado pela professora Regina Succi, eram acompanhados pelo Centro de Atendimento da Disciplina de Infectologia Pediátrica da Unifesp. Em todos os casos, a transmissão ocorreu durante a gestação, parto ou amamentação. Quase 40% deles estavam infectados com o subtipo BF1 Mosaico, uma mistura genética dos subtipos B e F1. Outros 9,5% apresentaram o subtipo F1.

Al Sanabani destaca que esse resultado não era esperado inicialmente. "A gente pensava que fosse encontrar um tipo genético igual ao dos adultos. Fomos surpreendidos com essa alta diversidade", declarou. O pesquisador explica que essa variabilidade genética pode ser justificada pelo fato de a maior parte das mães serem de um grupo de risco, com muitos parceiros sexuais e histórico de uso de drogas. "Esses fenômenos de recombinação que, no caso das crianças, chega a 40%, é resultado dessa mistura de vírus. As mães foram infectadas, provavelmente, por mais de um vírus", declarou.

O professor explica que, quanto maior a diversidade do HIV, mais difícil será desenvolver uma única vacina para o combate à doença. Há consequências também na definição de uma terapia, já que a mutação genética pode fazer com que o vírus adquira resistência ao tratamento. Além disso, pode haver falhas no diagnóstico da doença, pois a mudança nos códigos genéticos pode levar à não identificação do vírus. "A gente precisa saber o que está circulando no nosso ambiente. Se o HIV tem capacidade de mudar ou recombinar, ele pode, inclusive, constituir outro tipo de aids", alertou.

Embora a mutação genética faça parte do ciclo de vida do vírus, um tratamento eficiente diminui bastante a carga viral no paciente e reduz o risco de transmissão. "Estamos baseando os nossos casos em crianças e adolescentes de São Paulo e sabemos que aqui há tratamento de qualidade disponível. É preciso fazer isso chegar dessa forma a outras regiões, para não agravar o problema", defendeu.

O coordenador informou que um novo estudo está em curso para caracterizar os tipos de HIV circulantes em quatro estados, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. "Por meio do sequenciamento de alta escala do genoma do HIV, vamos enxergar o vírus de ponta a ponta. É uma forma de saber quem está recombinando e quem está puro", declarou.

Câmara pode votar Marco Civil da Internet na próxima terça-feira

Iolando Lourenço
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O inicio da discussão e votação em plenário do Marco Civil da Internet e do Código de Processo Civil (CPC) são os destaques do plenário da Câmara desta semana. As discussões e votações das duas propostas devem começar na terça-feira (29). Inicialmente, às 11h, será realizada sessão extraordinária para o inicio das discussões do marco civil. O relator da matéria, deputado Alessandro Molon (PT-RJ), defende a votação do projeto mesmo sem consenso.

Não há acordo para a votação do Marco Civil da Internet porque o assunto é polêmico e encontra resistência de algumas empresas atingidas pela legislação, como telefônicas e proprietárias de provedores de conexão. O projeto tramita com urgência constitucional e passa a trancar a pauta de votação da Câmara de Deputados a partir de amanhã (28).

Segundo o deputado Molon, as empresas que estão contra a matéria não querem o princípio da neutralidade da rede, que impede que as operadoras definam quais os tipos de acesso por parte do usuário teriam maior ou menor velocidade dentro dos pacotes oferecidos. Por outro lado, os debates para a votação do CPC estão marcados para a noite de terça-feira, também em sessão extraordinária.

O governo brasileiro quer aprovar logo a proposta, no contexto do questionamento das ações de espionagem dos Estados Unidos no ambiente virtual. No início de outubro, a presidenta Dilma Rousseff disse que, assim que for aprovado pelos parlamentares, o projeto do Marco Civil da Internet será enviado como proposta à Organização das Nações Unidas (ONU).

Na tarde de terça-feira, às 15h, a Câmara fará uma sessão solene para a entrega da medalha Suprema Distinção da Câmara ao ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. A homenagem ao ex-presidente foi proposta pelos deputados Simão Sessim (PP-RJ) e Eduardo da Fonte (PP-PE).

A medalha foi instituída em 2002 para homenagear governantes e personalidades brasileiros e estrangeiros que tenham prestado relevantes serviços ao Brasil. O distintivo já foi entregue a 15 pessoas, entre elas o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o poeta Carlos Drummond de Andrade e a coordenadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns.

Também estão na pauta de votações desta semana, algumas propostas de emenda à Constituição (PECs). Entre elas, a que dá prazo de 360 dias ao Supremo Tribunal Federal (STF) para enviar ao Congresso projeto de lei instituindo o Estatuto dos Servidores do Judiciário, que precisa ser votada em segundo turno, e a que efetiva sem concurso público os atuais titulares de cartórios de notas ou de registro, a chamada PEC dos Cartórios.

sábado, 26 de outubro de 2013

Coronel tem clavícula quebrada e arma roubada em ato em SP, diz PM


PM diz que soldado que auxiliava coronel também foi agredido por 'black blocs'.
Dois suspeitos da agressão ao oficial foram presos, diz delegado-geral.

Manifestantes agridem e roubam arma do coronel Reynaldo Rossi durante confronto no Terminal D. Pedro, no Centro (Foto: Iacio Teixeira/Coperphoto/Estadão Conteúdo)De arma em punho, soldado tenta evitar agressões. Ele também foi hospitalizado, de acordo com a Secretaria da Segurança Pública. (Foto: Iacio Teixeira/Coperphoto/Estadão Conteúdo)

A Polícia Militar (PM) afirma que o coronel Reynaldo Simões Rossi, comandante do policiamento da área Centro, teve a clavícula quebrada em agressão cometida por um grupo de black blocs na noite de sexta-feira (25). Além disso, o oficial teve a sua pistola .40 e um rádio comunicador roubados, segundo nota da PM (veja íntegra abaixo).

O delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Luiz Maurício Souza Blazeck, disse ao G1 que aos menos duas pessoas foram presas suspeitas da agresão ao oficial. A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que o homem de arma em punho e sem máscara que aparece em fotografias do tumulto (como a publicada acima) é um soldado que o auxiliava e dirigia o carro do coronel no momento da confusão.

A agressão ocorreu durante protesto organizado pelo Movimento Passe Livre (MPL) que terminou com invasão do Terminal Parque Dom Pedro II e vandalismo contra ônibus. Agências bancárias de ruas do Centro também foram depredadas.

(O G1 acompanhou em tempo real a manifestação, em fotos e vídeos: veja aqui.)

A Tropa de Choque agiu para conter o tumulto e ao menos 78 pessoas foram detidas e encaminhadas para o 2º distrito policial, no Bom Retiro, e para o 78º DP, nos Jardins. No Terminal, ao menos 15 caixas eletrônicos foram depredados. Na Rua Boa Vista, ao menos quatro agências bancárias foram alvo de vandalismo.

Agressão covarde, diz PM
Segundo nota da PM, o coronel foi agredido "de forma covarde" no Terminal Parque Dom Pedro II. A PM diz que Rossi "teve a clavícula quebrada e muitas escoriações na região da face e cabeça, sendo socorrido ao Hospital das Clínicas juntamente com seu auxiliar, soldado da PM que teve ferimentos e passa por atendimento médico".

O delegado-geral explicou que a agressão ocorreu durante uma tentativa de diálogo com os manifestantes. "Ele [coronel Reynaldo] parou com motorista dele e saiu da viatura com o motorista para tentar dialogar para evitar destruir ônibus no Terminal Parque Dom Pedro. Uma dúzia veio para cima, com pau. Quase lincharam os dois. Têm dois suspeitos presos como possíveis autores da agressão", disse o delegado-geral Luiz Blazeck.

Os detidos estão no 2º DP. "Ainda não tenho informação se esses dois foram indiciados", completou. A PM disse que 78 foram presos por causa dos tumultos ocorridos após ato convocado pelo Movimento Passe Livre (MPL).

"Todos os distritos estão reforçados e todo aparato de apoio foi montado", disse Blazeck, que deverá tomar medidas mais efetivas daqui para frente para pensar em como punir os vândalos e evitar que mais danos ocorram à cidade.

"Vamos agir com todo rigor. Já temos a Força-Tarefa no Deic com promotores do Gaeco estão trabalhando para identificar e achar fundamentação correta para coibir. Tem que tentar uma tipificação própria. Talvez sejam enquadrados por quadrilha ou bando depredação contra patrimônio público e privados. Tem que ter medida cautelar quem já foi pego não participar mais de manifestação. A lei permite isso, se eles forem surpreendidos. É o mesmo raciocínio que fez para inibir as torcidas de futebol", explicou Blazeck.

Protesto
O ato convocado pelo MPL reivindicava tarifa zero no transporte públicos e a volta de linhas de ônibus extintas na periferia. O MPL disse que o ato que encerrava a "Semana de Luta por Transporte Público" reuniu 4 mil pessoas. No começo do ato, a PM estimou em 600 o total de participantes.

Nota da PM
Confira abaixo posicionamento da PM sobre os tumultos de sexta-feira:
Criminosos travestidos de manifestantes agridem Coronel da Polícia Militar.

A Polícia Militar esclarece que nesta data (25), realizava o acompanhamento da manifestação “Mobilização do MPL/SP- Semana de Luta Pelo Transporte Público”, com a finalidade de garantir o direito de manifestação como também o direito de ir e vir e de preservar o patrimônio público e privado.

Desde o início da Manifestação foi percebida a presença de integrantes “Black Blocs” que gritavam palavras de ordem contra a PM, bem como tentavam provocar os PMs a alguma reação violenta para fins midiáticos.

No Parque Dom Pedro os “Black Blocs” passaram das palavras à ação e iniciaram um confronto com os policiais militares, neste episódio eles agrediram, de forma covarde, o Cel PM Reynaldo Simões Rossi, comandante do policiamento da área centro e seu auxiliar, roubando a pistola calibre .40 e o rádio comunicador do Oficial.

O Cel PM Reynaldo teve a clavícula quebrada e muitas escoriações na região da face e cabeça, sendo socorrido ao Hospital das Clínicas juntamente com seu auxiliar, soldado da PM que teve ferimentos e passa por atendimento médico.

Integrantes do "Black Block", no Parque Dom Pedro, picharam as colunas do terminal, depredaram vários ônibus, caixas eletrônicos e instalações. Também atearam fogo em cones.

Manifestantes também depredaram a subprefeitura da Sé na rua Álvares Penteado e alguns mascarados roubaram cerca de 1.500 reais de uma cabine do terminal Dom Pedro. Cerca de 15 caixas eletrônicos foram danificados pela região.

Diante este cenário equipes do Comando de Choque, usando de técnicas de CDC, detiveram 78 pessoas que foram conduzidas para o 2 e 78º D.P."

Fonte: G1

Professores da rede municipal do Rio de Janeiro decidem terminar a greve


Akemi Nitahara
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - Os profissionais da educação da rede municipal do Rio de Janeiro decidiram hoje (25), em assembleia, encerrar a greve iniciada no começo de agosto. A votação foi apertada, sendo necessário fazer uma contagem de votos. A decisão pelo fim da greve teve 1.085 votos e a continuação recebeu 889. Também houve 14 abstenções.
A assembleia ocorreu no Clube Municipal, na Tijuca, zona norte do Rio e a discussão acalorada durou quase seis horas até a decisão, com muitas manifestações contrárias ao acordo firmado na terça-feira (22), em Brasília, no gabinete do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, que prevê o arquivamento, sem punição, dos processos administrativos, inquéritos ou sindicâncias contra os servidores em greve.
No acordo, que teve a participação da diretoria do Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (Sepe), também ficou expresso o abono das faltas durante a greve atual e as anteriores. Após a fala do sindicato favorável ao fim da greve, parte do plenário da assembleia cantou “você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão”.
A greve chegou a ser suspensa em setembro, após acordo com a prefeitura, mas o governo apresentou e aprovou um plano de cargos que desagradou à categoria, o que fez com que a mobilização dos profissionais fosse retomada. De acordo com a coordenadora do Sepe, Gesa Corrêa, a greve foi encerrada, mas a mobilização continua.
“A categoria sinalizou, em toda a sua intervenção, que não vai sair da luta, no sentido de que ela rejeita o plano de Eduardo Paes e nós vamos continuar tentando abrir esse canal de negociação. A gente não aceita professor polivalente, a gente não aceita que a merendeira não seja chamada cozinheira, a gente não aceita percentual diferenciado na progressão por tempo de serviço e formação, um para professor outro para funcionário. Então a luta não acabou”, disse Gesa.
A categoria ainda está discutindo o calendário de reposição das aulas.
A Secretaria Municipal de Educação divulgou nota na noite de hoje em que informa ter recebido "com satisfação" a decisão da assembleia dos profissionais da educação de encerrar a greve nesta sexta-feira. Na nota, a secretaria ressalta que "todos os acordos firmados pela prefeitura com o sindicato serão cumpridos, como já vinha sendo feito desde o início das negociações".
A secretaria agradece a todos os professores que acreditaram nos acordos firmados com a categoria e continuaram trabalhando apesar da greve e considera fundamental para o fim da greve a iniciativa do ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, na intermediação das negociações entre a prefeitura e o Sepe.
Ainda segundo a nota, a secretaria esclarece que caberá à direção de cada unidade escolar dimensionar as ausências ocorridas e elaborar seu plano de reposição.  "É importante ressaltar que uma parcela pequena das escolas ficou sem aulas.  Para esses alunos, haverá reposição de aulas de duas formas: a partir do plano de reposição de cada escola e uma recuperação emergencial de aprendizagem por meio de intensificação do reforço escolar para os mais prejudicados, leitura e dever de casa com material especificamente preparado para essa reposição, além de aulas da Educopédia [plataforma da Secretaria Municipal de Educação de aulas digitais online] ", diz a nota.
A secretaria informa ainda que poderão ser utilizados, além do contraturno, a semana prevista para o período de recesso do mês de dezembro de 2013, os sábados e os dias em que não estejam previstas atividades regulares nas unidades escolares, horários vagos na grade escolar e também o mês de janeiro de 2014.

Justiça Global recorre à OEA contra prisão de manifestantes no Rio


Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – Entidades de direitos humanos recorreram à Organização dos Estados Americanos (OEA) para denunciar as circunstâncias da prisão de ativistas em protestos na capital fluminese. A organização não governamental (ONG)  Justiça Global e o Instituto de Defensores de Direitos Humanos (DDH) questionam os critérios para a prisão de 190 pessoas, das quais sete permanecem detidas no complexo penitenciário de Bangu, onde estão os principais criminosos do estado. Quatro conseguiram habeas corpus hoje (25).
Segundo as entidades de direitos humanos, a prisão dos ativistas foi arbitrária e baseada em elementos frágeis. “Não tem uma prova material, não tem um vídeo, é só a prova testemunhal, normalmente o depoimento de um policial, que pode ser o mesmo acusado de ter cometido uma série de abusos”, disse a advogada da Justiça Global Natália Damazio, que participou da elaboração da denúncia, que critica também armas letais no protesto do último dia 15.
As instituições questionam também a aplicação da Lei de Organizações Criminosas (Lei 12.850), aprovada em agosto deste ano, contra os ativistas, prática considerada exagerada também pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), e a recusa da Justiça em liberar os ativistas mesmo com o pedido de prisão retirado ou relaxado pelo Ministério Público do Estado. Há denúncia ainda de demora na execução de alvarás de soltura em 24 horas. Alguns chegam a levar cinco dias.
Como exemplo de prisões arbitrárias nos protestos, as organizações destacam, entre 190 casos, o do morador de rua Rafael Vieira, detido há mais de 100 dias com um balde de água sanitária, álcool e uma vassoura nas mãos. “Eles estava indo limpar o local onde dorme quando foi pego na manifestação. Vários pedidos de liberdade foram negados porque ele não tem residência fixa. Este é exemplo de um caso especialmente arbitrário”, reforçou a advogada.
Para as entidades, outro caso que preocupa é o da estudante da Universidade Estadual do Rio de Janeiro Daniela Soledad dos Santos Barbosa, que chegou a fazer greve de fome até ontem (24) e está entre os presos que devem ser liberadas a partir de hoje. De acordo com a  Justiça Global, a prisão de Daniela foi fundamentada na declaração do policial que a prendeu, conforme registra o boletim de ocorrência.
“A aplicação dessa lei (12.850) é repleta de inconstitucionalidades, como o livre arbítrio das polícias nas detenções e imputação de crimes inafiançáveis. É uma lei que tem sido aplicada de forma abusiva, sem critérios, com intuito de repressão política e desmobilização”, disse Natália.
De acordo com a Justiça Global, que fez um ato em frente ao Tribunal de Justiça na tarde de hoje, as denúncias à OEA costumam ser respondidas em poucos dias. A organização deve cobrar do governo brasileiro uma respostas às denuncias. Além da liberdade dos ativistas, as entidades esperam impedir que condutas criminosas sejam atribuídos a outros manifestantes.
Procuradas pela Agência Brasil, a Secretaria Estadual de Assistência Social e a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República não se pronunciaram sobre a denúncia à OEA.

Mudanças climáticas podem causar perdas de R$ 7,4 bilhões para agricultura, diz relatório



Vinícius Lisboa
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – A agricultura deve ser o setor da economia mais afetado pelas mudanças climáticas ao longo do século 21, divulgou hoje (25) o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), na segunda parte do primeiro relatório nacional. De acordo com o estudo, o prejuízo do agronegócio com problemas climáticos pode chegar a R$ 7,4 bilhões em 2020 e R$ 14 bilhões em 2070. Até 2030, a produção de soja, por exemplo, pode ter perdas de até 24%.
"É uma preocupação em termos de impacto financeiro e para a questão de segurança. A ideia é que esses relatórios possam sinalizar aos tomadores de decisão a importância de agir agora. O custo da inação, de não fazer nada, vai ser maior do que se a gente começar a se prevenir", defendeu Andrea Santos, secretária executiva do painel.
O estudo prevê que as mudanças nos regimes de chuva e a elevação da temperatura média prejudique a agricultura principalmente em áreas secas, como o Nordeste, região em que a distribuição de chuvas pode cair até 50%, segundo o relatório. Um resultado desse processo seria a intensificação da pobreza e a migração para áreas urbanas, impactando a infraestrutura. Culturas como as do milho, do arroz, da mandioca, do feijão e do algodão seriam prejudicadas.
Outra ameaça à segurança alimentar prevista pelo relatório é a diminuição do potencial pesqueiro do Brasil, que pode chegar a até 10% nos próximos 40 anos. Andrea explica que, com o aumento da temperatura da água e a mudança na salinidade, espécies podem buscar regiões mais frias, afetando toda a costa nacional. O estudo aponta ainda a elevação do nível do mar como outra possível vulnerabilidade das cidades litorâneas.
"Além de inundações, esse aumento pode levar a colapsos no sistema de abastecimento e esgotamento, com o retorno de esgoto para as residências em um caso de transbordo dos sistemas de tratamento. Isso pode trazer prejuízos também para o lençol freático".
Nas grandes cidades, os prejuízos estimados serão na mobilidade e na habitação, que podem sofrer com tempestades mais frequentes no Sul e no Sudeste. Já biomas como a Amazônia e a Caatinga correm riscos de ter queda de até 40% dos índices pluviométricos (chuvas), afetando a biodiversidade. A alta da temperatura também pode aumentar a incidência de doenças, como a dengue e a leishmaniose, e, combinada a maiores radiações de raios ultravioletas e emissões de gás carbônico, as lavouras podem sofrer com mais pragas e doenças causadas por fungos.
O painel reúne 345 especialistas de universidades e institutos de pesquisa brasileiros e recebe o apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e do Ministério do Meio Ambiente, além de outras entidades.

MEC vai monitorar redes sociais durante Enem; candidato que postar será eliminado




Brasília - O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, reforçou hoje (25) que o candidato que postar fotos ou mensagens em redes sociais no local de prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) será eliminado. Uma equipe do ministério vai monitorar redes como o Twitter e o Facebook. "No ano passado, identificamos usuários em questão de minutos", disse Mercadante. O Enem será aplicado amanhã (26) e domingo (27) a mais de 7,1 milhões de candidatos em 1.161 cidades em todo o país.
No exame de 2012, 65 candidatos foram eliminados por postarem imagens na internet, como caderno de provas e do cartão de resposta. Segundo o ministro, foram identificados inclusive aqueles que usavam pseudônimos.
O candidato receberá no local de prova um envelope com lacre para guardar os pertences. Quem estiver com celular, deverá desligá-lo e colocá-lo no envelope, que ficará embaixo da carteira durante toda a prova. "Seremos cuidadosos e rigorosos, não vamos aceitar em hipótese nenhuma a utilização de celular nas salas de aula. Quem tentar seguramente será identificado e prejudicado", disse o ministro.
Além do celular, não é permitido uso de lápis, caneta de material não transparente, lapiseira, borracha, livros, manuais, impressos, anotações e dispositivos eletrônicos.
A segurança é uma das preocupações do Ministério da Educação (MEC). Neste ano, as provas deixaram a gráfica de segurança máxima em malotes com lacre eletrônico e GPS, que permite acompanhar o deslocamento da prova e o horário em que os malotes serão abertos.
Depois de impressas, as provas foram guardadas em um galpão do Exército em São Paulo, e posteriormente, nesta semana, foram encaminhadas aos estados. De lá, serão levadas aos locais de prova. O MEC não informa a data ou a hora que ocorrerá o deslocamento. Todo o processo, explica Mercadante, tem o apoio das Forças Armadas, da Polícia Militar, da Polícia Federal, da Polícia Civil e da Polícia Rodoviária Federal.
O compromisso do MEC, segundo o ministro, é garantir que os candidatos façam a prova em condições iguais, que não haja vazamento de questões ou de respostas. Sobre o monitoramento das redes sociais, Mercadante disse: "Nosso trabalho aqui não é tão eficiente como o do Obama", referindo-se às denúncias de que o governo norte americano tem espionado outros países, como Brasil, Alemanha e França. "Mas é bom. E é uma razão republicana, de preservar o exame. Não queremos espionar a vida de ninguém. Só queremos que o exame seja feito nas mesmas condições por todos e o sigilo do exame é importante para dar segurança e as mesmas condições aos participantes".
O ministro voltou a fazer recomendações aos candidatos, para que conheçam o caminho até o local de prova e que cheguem com antecedência. Os portões abrem às 12h, no horário de Brasília, e fecham pontualmente às 13h. O candidato deve estar atento ao horário de verão. A apresentação de documento de identidade com foto é obrigatória. Em caso de furto, será aceito boletim de ocorrência emitido, no máximo, 90 dias antes do dia do exame.


Fonte: Mariana Tokarnia
Repórter da Agência Brasil

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Piauí produz retrato demolidor de Cabral

Edição/247 Fotos: Reprodução:
Escrito pela jornalista Daniela Pinheiro, conhecida pela pena afiada, o texto revela os "mandos e desmandos de Sérgio Cabral, o governador mais impopular do País"; na entrevista, ele falou até dos voos de helicóptero do cachorro Juquinha.  “E o Juquinha, pelo amor de Deus, é um cachorrinho desse tamanhinho, e é do meu filho”, disse ele. “Sempre foi voo de família, meus filhos junto. Nunca foi só babá com cachorro. É segurança da minha família"


Quer saber como Sérgio Cabral se transformou no governador mais impopular do País. A resposta está no perfil escrito pela jornalista Daniela Pinheiro. Leia abaixo:

Na boca do povo

Antes e depois dos protestos, os mandos e desmandos de Sérgio Cabral, o governador mais impopular do país

por DANIELA PINHEIRO

O visor digital indicou a chegada ao térreo, mas a porta do elevador permaneceu fechada. Seis pessoas se entreolharam. “É hidráulico?”, indagou o governador do Rio de Janeiro, Sérgio de Oliveira Cabral Santos Filho, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro. “Se for, é devagar mesmo.” O ascensorista apertava os botões da emergência e dos outros andares. Usou insistência e força. Debalde. Como era a autoridade máxima presente, Cabral governou outra vez: “Tenta o quatro de novo e vê se sobe.” Nada aconteceu. O vice-governador Luiz Fernando Pezão, que tem 1,90 metro de altura e muito mais de 100 quilos, enfiou os dedos de sua assombrosa mão direita no vão da porta. “Não força!”, disse Cabral. “Tô tentando abrir, porra”, objetou o outro. Ao seu lado, o presidente do Tribunal de Contas do Estado, Jonas Lopes de Carvalho Júnior, enxugou uma mina de suor que lhe banhava a raiz dos cabelos. “Eu tenho claustrofobia”, balbuciou bem baixinho, quase inaudível. A caixa de metal continuava imóvel como um enfezado black bloc da avenida Delfim Moreira.

Terminava uma manhã do final de setembro e o grupo de presos acabara de participar da abertura do seminário “Para a melhoria da governança pública”, organizado pelo Tribunal de Contas da União, em um auditório no Centro do Rio. Por meia hora, Cabral foi incensado pelos palestrantes. Disseram que sua gestão era exemplo de retidão fiscal, que era o único a submeter editais de licitação previamente ao Tribunal e que sua política de segurança pública servia de lição para o país.

De sua parte, o governador não se poupou elogios. À plateia, disse ter implantado na polícia bonificações por meritocracia, mencionou pagar a melhor hora-aula para professores esta-duais do Brasil e observou que, sob sua batuta, a economia do Rio crescera o dobro da nacional. Ressaltou haver 21 bilhões de dólares em investimentos no estado e garantiu que entregaria em três anos “mais metrô do que foi feito em vinte”. Em tom solene, pregou que o tripé legalidade–moralidade–transparência era a combinação de sucesso na administração pública.

Se um carioca recém-chegado de vinte anos no Ártico entrasse no auditório, jamais imaginaria ser Cabral o mandatário mais hostilizado e pior avaliado do país. Desde os protestos de junho, a aprovação a seu governo desabou de 45% para parcos 12%, segundo medição do Ibope. É um percentual inalcançado em décadas. O recorde ainda é de Fernando Collor de Mello, que tinha 9% de aprovação quando sofreu o impeachment. Contra Cabral, houve passeatas, depredação, tentativa de invasão de prédios públicos, saques de lojas, carros incendiados, ataques à polícia e um vagalhão de apupos que chegou até a avenida Paulista. Por quase cinquenta dias, manifestantes acamparam ao lado de seu apartamento no Leblon para pressionar por uma renúncia. Vizinhos se agitaram, exigindo sua mudança do bairro. Correligionários de longa data evitaram defendê-lo em público, caso do prefeito do Rio, Eduardo Paes. Em solenidades, Cabral passou a ser vaiado com entusiasmo pela multidão. Reeleito há menos de três anos em primeiro turno com 66% dos votos, a grande estrela do PMDB se viu impedido de sair às ruas. Parecia um calcinado corpo celeste caindo num buraco negro.

"É hidráulico ou não é?”, voltou a inquirir o governador. Vexada, a desembargadora Leila Mariano, presidente do Tribunal de Justiça do Rio, explicou que a engrenagem era velha e nunca fora trocada. “Eu já falei para a presidenta Dilma e ela vai ser uma das quatro testemunhas do processo que vou abrir contra o Cabral por insalubridade”, disse Pezão, provocando uma gargalhada desanuviadora – à exceção do magistrado Carvalho, que continuava mudo e suava em bicas. A porta se entreabriu. Parte do cocuruto de um bombeiro surgiu numa nesga sob os pés dos enclausurados. “Ninguém saia do carro, por favor!”, ele gritou, incitando mais risos. “Só se for voando”, disse Cabral, esticando o pescoço como um filhote de pássaro querendo sair do ovo. Depois de uma eternidade – três minutos, ao todo –, viu-se a luz do sol. “Só faltava eu ficar preso, né?”, disse o governador ao receber a lufada de ar quente vinda da garagem.

Era quase hora do almoço e ele estava atrasado para duas audiências no Palácio Guanabara. Acomodou-se no banco de trás do carro blindado, reclamou do calor e passou a relativizar as críticas contra si. “Ao contrário do que você diz, eu posso e estou saindo nas ruas”, falou, deslizando a mão pela gravata azul-cobalto, como se acariciasse o rabo de um gato. “Ontem mesmo fui a Seropédica, Vassouras, Mendes e fui muito bem recebido. Ando por aí direto e sou sempre bem acolhido.”

Mencionei que, na antevéspera, um coro de 85 mil pessoas o havia xingado por um longuíssimo minuto durante uma apresentação no Rock in Rio. Mais uma vez, ele contemporizou. “Ah, isso foi incitado por um cantor, um cara que faz campanha contra mim desde 1997”, disse, referindo-se a Tico Santa Cruz, vocalista da banda Detonautas, que puxou a multidão. “Isso é o Rio de Janeiro. Depende do lugar, do perfil das pessoas. Em 2010, eu me reelegi com faixas de ‘Fora Cabral’. O Rio não é trivial.”

O carro avançava pelo bairro do Flamengo e ele prosseguiu a análise sem solavancos. Em suas pesquisas, disse, jamais atingiu o percentual de impopularidade que lhe foi atribuído. “Nunca tive só 12% de aprovação. Variou entre 15, 18, 20. E esse número é velho também, já melhorou”, afirmou, escorrendo novamente a mão pela gravata. Na sua avaliação, o que parecia uma crise sem solução era fruto da exploração de um “imaginário popular” alimentado por adversários que “jogavam abaixo da linha da cintura”.

Havia os que chamou de “profissas de manifestação”, os sindicatos, os partidos políticos – como o Partido Socialismo e Liberdade e o Partido da República –, seus representantes, os black blocs, de quem não se conhecia exatamente a agenda, e os “formadores de opinião”. “É o pessoal que em 2006 fez campanha para a Denise Frossard, em 2008 e 2010 fez para o Fernando Gabeira, em 2012 estava com o Marcelo Freixo”, comentou. Parecia muita gente, disse, mas eram vozes isoladas. Para ele, a oposição soube reverberar com força a onda negativa produzida contra o governo, “mas é uma coisa que está decantando, que as pessoas estão discernindo a ironia por trás dela, vendo que são ataques que não ficam de pé”.

O carro parou em um semáforo vermelho. “A gente vê pelas pesquisas que, em relação à sucessão, não houve nenhum legatário das manifestações”, comentou Cabral. A situação estadual seria diferente do que havia ocorrido em âmbito nacional com Marina Silva, que, depois das jornadas de junho, ganhara musculatura como alternativa a Dilma Rousseff. “O Pezão está lá embolado com todos. Não tem nenhum candidato que passe dos vinte pontos. A diferença é que nós temos uma história de sete anos de mudança no estado. E as pessoas sabem disso”, falou. Ao cruzar os portões do Palácio Guanabara, Cabral concluiu: “Isso é um processo. Um governante democrático tem que entender. Há de se ter paciência e tolerância. Essa é a palavra: to-le-rân-cia.”

Numa tarde de agosto, o vereador e ex-prefeito Cesar Maia, do Democratas, despachava em seu gabinete na Câmara Municipal. Vestia uma camisa listrada de branco e azul e tinha uma gravata vermelha pendurada nos ombros como uma echarpe. Assertivo e focado, ele fala rápido, tem o olhar injetado e enormes fios de sobrancelha que apontam para cima como pequenas antenas. Rabiscava o verso de um papel com uma pesquisa do Instituto GPP. O levantamento de opinião pública mostrava que, três meses antes dos protestos, mais de 60% da população não sabia citar uma realização do governo Cabral.

Cesar Maia enumerou o recheio do “imaginário popular”, citado por Cabral. “Vamos lá”, começou, “gastos exorbitantes na festinha de sorteio da Copa do Mundo, construção de estádios, a boa vida, viagens para o exterior, ligações promíscuas com Eike, Cavendish, guardanapo, helicóptero, marquetagem, relação péssima com os servidores públicos, catástrofe na serra fluminense e ele sempre viajando, Amarildo, vídeo chamando menino de otário, escritório de advocacia da mulher.” Recuperou o fôlego e perguntou: “É bastante, não?”

Segundo ele, os protestos de junho afetaram a imagem de todos os políticos, mas a situação de Cabral era de outra ordem. “A passagem de ônibus foi um tipping point. Com ele, o que houve foi um processo cumulativo, foi a desfaçatez de anos, que estava represada, que veio à tona”, comentou. Para o ex-prefeito, Cabral virou o retrato acabado da ignomínia da política nacional. “Quando a população se vê à deriva, você tem que escolher sua Geni de estimação, um fato ou personagem para aglutinar e canalizar a revolta das pessoas. Ele foi fácil. Quem colecionou tanta impropriedade assim?”, perguntou.

Dali a alguns minutos, Maia participaria de uma votação em plenário. Levantou-se e fez o nó da gravata deixando o colarinho da camisa em riste, como a gola da capa de um vampiro. Em sua opinião, a situação de Cabral era irreversível e a tentativa de emplacar Pezão como sucessor, um devaneio. “Quando eu saí da prefeitura, eu tinha 25% de ótimo e bom e 35% de ruim e péssimo. Tinha uma campanha da TV Globo contra mim, a epidemia de dengue, tudo muito ruim, mas eu podia andar na rua. Ele tem 12% de bom e 50% de péssimo. Isso é mortal”, falou.

Primogênito do jornalista e crítico musical Sérgio Cabral, um dos fundadores do Pasquim, e da museóloga Magaly, Serginho – como é chamado na intimidade – teve uma infância de garoto de subúrbio. Nasceu no Engenho Novo e foi criado em Cavalcanti, onde jogava bola e soltava pipa na rua. A família se mudou para São Paulo quando o pai trabalhou na revista Realidade. De volta ao Rio, instalaram-se no Leblon. A casa era frequentada por sambistas e jornalistas cariocas de esquerda. Virou então um integrante da jeunesse dorée, que discutia comunismo no Arpoador.

Desde cedo, Cabral gostou de política. Escrevia no jornal da escola e discursava se houvesse três pessoas reunidas. Aos 15 anos, frequentava reuniões da Juventude Comunista e, aos 18, já militava no grupo jovem do Movimento Democrático Brasileiro – partido de oposição consentida na ditadura. No 2º grau, foi expulso do colégio por ter conclamado os alunos a montar um grêmio estudantil. Nessa época, participou da campanha de seu pai para vereador e foi um dos coordenadores do comitê que apoiou a eleição indireta de Tancredo Neves.

Foi quando conheceu sua primeira mulher, Suzana, com quem teve três filhos. Ela é sobrinha-neta de Tancredo Neves e filha de Gastão Lobosque Neves, proeminente empresário do ramo de minério em Minas Gerais. Cabral sempre teve uma diligente admiração pelo sogro e o clã Neves. Ficou muito amigo de um primo da mulher, Aécio Neves, com quem fumava nos fundos do avião que levava Tancredo aos comícios pelas eleições diretas à Presidência. Tornou-se inseparável de um tio de Suzana, o senador Francisco Dornelles, do Partido Progressista. É a ele a quem recorre em encruzilhadas políticas.

Formado em jornalismo sem jamais ter exercido a profissão, ele nunca cogitou outra carreira que não fosse a dos palanques, dos gabinetes, das viagens – de campanha ou não. Numa antiga entrevista, seu pai disse que “o Serginho gosta tanto de eleição que, se pudesse, ele se candidataria a papa”. Trabalhou no gabinete do pai na Câmara Municipal, mas vivia com conforto graças à família da mulher. Em 1987, aos 24 anos, Cabral assumiu seu primeiro cargo público. Foi nomeado diretor de Operações da Companhia de Turismo do Estado do Rio de Janeiro a pedido do sogro e do pai. Eles insistiram com o então governador Moreira Franco para que desse uma chance ao jovem e ambicioso aspirante a político. A aposta vingou. Em pouco tempo, Cabral implementou dois projetos que se tornariam sua marca registrada junto ao eleitorado: o Clube da Maior Idade e os Albergues da Juventude. Passou a ser adorado por velhinhos e mocinhos.

A profícua atuação à frente dos programas o levou ao PSDB e ao cargo de deputado estadual – para o qual foi eleito em 1990 com tímidos 12 000 votos. Aproximou-se do então prefeito Marcello Alencar – à época no Partido Democrático Trabalhista –, que contava com alta popularidade, diferentemente do que ocorria com o governador Leonel Brizola. “Quero ser um novo Marcello sem o Brizola para atrapalhar”, era o slogan de campanha de Cabral à prefeitura em 1992. Não deu certo e foi derrotado. A maior visibilidade lhe rendeu frutos. Em 1994 garantiu a reeleição para a Assembleia fluminense com 168 mil votos.

A essa altura, Sérgio Cabral já encarnava os atributos que vieram a defini-lo no futuro. Animado, adaptava-se como um Zelig a situações e pessoas. É dotado de uma dose de fanfarrice, que costuma soar simpática, quase sedutora, conferindo-lhe um ar eternamente juvenil. Aprendeu com o pai a contar piadas, a soltar bons mots, além de discorrer sobre boemia, samba, futebol e demais clichês da carioquice. Por outro lado, sempre cultivou o modo tradicional de ganhar votos: mandar cartões de aniversário para eleitores, não perder um baile da terceira idade, beijar crianças de colo, chamar prefeitos do interior de “meu querido”, contratar cabos eleitorais, tratar empresários como sumidades e atender pedidos de emprego.

Bom de palanque e de rua, criou uma série de frases para todos os gostos: “Meus filhos e minha família têm acesso à saúde e à educação e a maioria não tem. Isso é muito injusto”, falava com indignação à gente pobre. “A economia só se desenvolve se soltar a criatividade do empresário”, defendia junto a proprietários. “Sou a síntese social do Rio”, dizia a todos. Quando precisava, mencionava ter saído do subúrbio apenas aos 7 anos. Se outra situação pedia, lembrava que sua casa sempre foi frequentada por artistas e intelectuais. Em um terceiro cenário, podia se valer do parentesco torto com a aristocrática família Neves. Entre os pares na política, ele é tido como ambicioso, organizado, jeitoso e com afiada percepção de oportunidades. É considerado o mestre das evasivas. Um deputado estadual da base governista me contou que, quando o governador Cabral fala “Que maravilha, vamos nessa!”, quer dizer exatamente o contrário.

Em 1994, Marcello Alencar se elegeu governador e seu afilhado político conquistou a presidência da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Aos 31 anos, Sérgio Cabral se cobriu com o manto da austeridade e começou a coibir regalias. Nunca se esqueceu de avisar a imprensa dos seus feitos. Foi na frente de repórteres que apresentou o arsenal bélico apreendido com os seguranças de seu antecessor, o deputado José Nader, e a salinha secreta, dentro de um banheiro, que seria usada – dizia-se – para acertar pagamentos. Dispensou o motorista da Casa e ia para o trabalho dirigindo o próprio carro, um Voyage.

Teve uma atuação profícua e ruidosa. Conseguiu aprovar o fim da aposentadoria especial para parlamentares e estabeleceu um teto para o funcionalismo público. Também agiu para melhorar a vida de setores da população. Ajudou a implantar o Passe Livre para estudantes da rede pública, deficientes físicos e maiores de 65 anos. Firmou-se na opinião pública como “o novo”, “o austero”, e passou a contar com uma forte simpatia da imprensa local, sobretudo emissoras de rádio.

Dois anos depois, candidatou-se novamente à prefeitura. Na frente das pesquisas, Cabral dava como certa a eleição, já que seu principal adversário era o poste da vez: o desconhecido Luiz Paulo Conde, secretário de Urbanismo do prefeito Cesar Maia, do finado Partido da Frente Liberal. Durante a campanha, o deputado Miro Teixeira, candidato pelo Partido Democrático Trabalhista, acusou Cabral de ter embolsado diárias da assembleia para viagens jamais realizadas. Ele negou e atacou o adversário, chamando-o de “político velho e carcomido”. Os adversários revidaram dizendo que era a prova de que Cabral não gostava de velhos.

“A campanha foi toda errada”, disse-me um dos coordenadores de seu comitê eleitoral na ocasião, hoje parlamentar. “Ele parecia um mauricinho vazio, que estava ali a passeio.” Outro equívoco foi ter subestimado o poder de Cesar Maia, que acabara de inaugurar dezenas de obras pela cidade. Derrotado por Conde, Cabral ficou prostrado. Em momentos de crise, ele costuma se abater fisicamente. Tranca-se num quarto escuro, fica dias incomunicável com a cabeça soterrada no travesseiro, à base de calmantes.

Em 1998, Anthony Garotinho, radialista evangélico, foi eleito governador pelo Partido Democrático Trabalhista, numa ampla coalizão de legendas de esquerda. A campanha de Garotinho foi fincada na crítica à gestão de Marcello Alencar e, por consequência, à turma de Sérgio Cabral – sobretudo no que dizia respeito às privatizações. O governo vendera quase todas as empresas públicas estaduais – barcas, energia elétrica, trens urbanos e o Banco do Estado do Rio de Janeiro, o Banerj.

A um mês da posse de Garotinho, Cabral participou de uma gravação clandestina, que revelou um esquema de cobrança de propina na privatização da Companhia de Água e Esgoto, a Cedae, que acabou suspensa. A denúncia foi uma punhalada no peito de Alencar e reduziu a pó a sólida amizade e parceria que os unia dando início a um belicoso confronto diário pela imprensa.

É quando se toma conhecimento de uma novidade: Cabral havia ficado rico. Apesar de viver com o salário de deputado estadual, Cabral, segundo Marcello Alencar, tinha um patrimônio incompatível com sua renda. Pela primeira vez, soube-se da casa no condomínio Portobello, em Mangaratiba, um assunto sobre o qual o governador ainda hoje tergiversa. A propriedade, avaliada por corretores em 5 milhões de reais, tem as estruturas interna e externa feitas com divisórias drywall, toda importada dos Estados Unidos. À época, ele informou dar consultoria política a um publicitário, o que justificava seus rendimentos.

Há dois anos, a revista Época mostrou que, para quitar a casa, Cabral fizera empréstimos junto a seu chefe de gabinete, ao subchefe e a um assessor, que ganhavam um décimo do valor que disponibilizaram ao patrão. Também aparecia dinheiro do sogro e de Suzana Neves na negociação do imóvel. Em sua declaração de bens entregue ao Tribunal Superior Eleitoral, ele alegou que o valor da casa era de 200 mil reais.

Marcello Alencar ainda acusou Cabral de empregar parentes em cargos no Tribunal de Contas do Estado, incluindo seu irmão e sua segunda mulher, a advogada Marise Rivetti. Ele negou as acusações, xingou Alencar, condenou o nepotismo e apresentou provas de que os familiares eram assíduos. Dizendo ser “inviável” sua permanência entre os tucanos, Cabral rompeu com o partido e voltou à casa de origem, o PMDB-cansado-de-guerra, mas ainda com excelente apetite. A partir daí, aliou-se a Garotinho, o que lhe garantiu a continuidade à frente da Assembleia Legislativa do Rio. No ano seguinte, a investigação sobre a compra da casa de Mangaratiba foi arquivada na Justiça.

Foi no começo de 2001 que a advogada Adriana de Lourdes Ancelmo, então assessora da Procuradoria-Geral na Assembleia fluminense, conheceu seu futuro marido. Ela aguardava o elevador privativo quando o presidente da Casa, Sérgio Cabral, chegou com seu vasto entourage. A jovem se apresentou a Cabral, que ficou encantado com a morena de sorriso largo e atitude destemida. Ele estava em sua terceira união e ela era casada havia sete anos com um advogado, dono de um modesto escritório no Centro da cidade. Separaram-se e logo foram morar juntos. No ano seguinte, nasceu o primeiro dos dois filhos deles, que só vieram a celebrar oficialmente a união três anos depois, em uma cerimônia para 900 convidados no Copacabana Palace. A festa, cujo salão foi decorado com 4 mil dúzias de rosas vermelhas, foi retratada em seis páginas da revista Casamento. A lua de mel foi em Paris.

À frente da Assembleia, Cabral foi um fiel parceiro de Garotinho, garantindo maioria do plenário nas votações de interesse do governo. Em 2002, lançou-se ao Senado e foi eleito com 4,2 milhões de votos, a maior votação para o cargo na história do Rio. Morando em Brasília, longe da família, dos amigos, recém-casado e com filhos pequenos, Cabral detestou o novo trabalho. Aborrecia-se com a modorra e os conchavos no cafezinho do plenário. Quando podia, ausentava-se. Um levantamento da Mesa Diretora do Senado mostrou que, de 2003 a 2005, ele havia faltado a um terço das votações, ou seja, havia acumulado 178 faltas. O maior feito de seu mandato foi ter sido o relator do Estatuto Nacional do Idoso, o que lhe valeu mais admiração do antigo e fiel eleitorado.

Rosinha Garotinho sucedeu o marido e era a governadora em 2005. Sem poder disputar mais um mandato, o casal Garotinho, então no PMDB, resolveu apoiar Cabral para substituí-la no comando da Guanabara. Colocaram a estrutura do governo à disposição da campanha e, em troca, indicaram o vice na chapa, Luiz Fernando de Souza “Pezão”, ex-secretário de governo de Rosinha, ex-prefeito de Piraí, cidade que havia sido bombada com recursos dos cofres estaduais. Ali, Pezão promovera o que chamou de “revolução tecnológica” com wi-fi público gratuito.

O governo Rosinha contava com boa popularidade entre os mais pobres, mas era desprezado pela elite. Orientado por marqueteiros, Cabral passou a imagem de querer romper com a continuidade, sem enterrar os programas assistencialistas aprovados pelo povo. Adversários ressaltavam o enriquecimento mal explicado, a casa de Mangaratiba e sua atuação na Assembleia. “Quando ele foi presidente da Alerj, houve 66 CPIs, todas feitas só para achacar empresários”, disse à época Elder Dantas, vice na chapa de Denise Frossard, do PPS, sem apresentar provas.

Uma história me foi contada por três interlocutores distintos. Rosinha havia decidido se desincompatibilizar do governo para se candidatar ao Senado e garantir um cargo público. Com sua saída, assumiria o vice-governador e ex-prefeito, Luiz Paulo Conde. Às vésperas da saída, Cabral e Regis Fichtner – hoje chefe da Casa Civil do governo – apareceram na residência oficial durante a noite. Queriam convencer o casal para que Rosinha terminasse o mandato. De acordo com os relatos, Cabral disse que, se Conde assumisse, ele o trairia e acabaria com o projeto dos Garotinho – e dele próprio – de fazê-lo governador do Rio. Depois de uma longa conversa e a garantia de que continuariam parceiros no governo futuro, o casal topou a proposta. Rosinha ficou, Conde não assumiu, e Cabral foi eleito governador do Rio com mais de 5 milhões de votos.

No dia seguinte à eleição, Cabral não atendeu aos telefonemas de Garotinho. E não os atendeu nunca mais. A amigos, Sérgio Cabral nunca escondera seu desprezo pelo ex-governador. Eleito, livrou-se dele. De sua parte, Pezão também se afastou. Um ministro de Dilma Rousseff me relatou uma reunião do partido, na qual Rosinha chamava Pezão de “traidor” na frente de todos, ao que ele permaneceu calado. O casal Garotinho, que contava com secretarias e autarquias, como a Cedae, só fez nomeações no Departamento Estadual de Trânsito.

Durante o mandato de Cabral, o Tribunal Regional Eleitoral deixou os Garotinho inelegíveis e cassou o mandato de Rosinha como prefeita de Campos dos Goytacazes. A Justiça prendeu o chefe da polícia do governo de ambos, o deputado Álvaro Lins. Ele e Garotinho foram acusados de lotear cargos nas delegacias do Rio e condenados por formação de quadrilha. Dez entre dez observadores fluminenses enxergaram as digitais de Cabral nos processos contra o casal. O ódio entre eles é do tipo visto apenas em filmes preto e branco estrelados pela atriz Joan Crawford.

Ao assumir o governo do Rio, Sérgio Cabral acabou com a nomeação política para cargos na Segurança Pública, na Saúde e nas inspetorias da Fazenda. Formou uma equipe de perfil mais técnico, equilibrou as despesas do estado no primeiro ano e logo produziu um superávit nas contas, o que não se via fazia muito tempo. Ainda nos primeiros meses, duas barbaridades abateram o governo: a morte do garoto João Hélio, arrastado por bandidos num assalto, e a chacina do Alemão, na qual dezenove pessoas foram mortas pela polícia. O problema do banditismo, e sua relação visceral com a polícia e o tráfico de drogas, continuava insolúvel.

“Aí, acontecem as duas coisas mais importantes da vida do Cabral: a invenção das Unidades de Polícia Pacificadora, quando ele encanta a elite e a imprensa, e a proximidade com o presidente Lula”, disse-me o deputado estadual Luiz Paulo da Rocha, do PSDB. Desde o início, a ocupação das favelas pela polícia teve audiência de novela das nove. Na primeira página de O Globo, a entrada do Exército na Vila Cruzeiro, no complexo do Alemão, por exemplo, foi comparada à invasão da Normandia por tropas aliadas. Quando se anunciava a instalação das UPPs, o espetáculo era televisionado ao vivo, com direito a suíte no dia seguinte mostrando a nova realidade local. Houve uma queda significativa dos índices de criminalidade. Pela primeira vez em anos, a taxa de homicídios no estado ficou abaixo de trinta mortes por cada grupo de 100 milhabitantes – embora ainda superior à taxa de São Paulo, em torno de dez para cada 100 mil habitantes. A sensação de bem-estar da população era reforçada pelo noticiário entusiasmado com as realizações do governo.

Em paralelo, Cabral construiu uma ponte com o Palácio do Planalto, selando uma umbilical relação com o presidente Lula. “Foi um encontro de interesses mútuos”, lembrou um deputado federal petista. Para Lula, interessava ter um aliado na segunda maior capital do país, já que São Paulo e Minas Gerais estavam com os tucanos. De sua parte, Cabral estava interessado em verbas e investimentos, que viabilizariam obras e realizações em seu governo. Somou-se a isso a empatia entre o governador e o presidente, celebrada várias vezes em público. O Rio de Janeiro nunca recebeu tantas verbas de Brasília quanto no governo Lula.

Sérgio Cabral se apresentava como um governante atualizado, pragmático, pós-ideológico, com uma agenda modernizadora, inclusive no terreno dos costumes. Disse ser favorável à legalização das drogas e do aborto. Propôs à Previdência do Rio pagar pensão a casais homossexuais. Angariara prestígio, simpatia de jornalistas, dos patrões da mídia, do Palácio do Planalto, das organizações não governamentais. Finalmente se tornara um personagem nacional. Concomitantemente, sua imagem era vendida a peso de diamante por uma das maiores empresas de comunicação do país, a FSB, e, mais tarde, pela Prole, uma ascendente agência publicitária, que lidava com a propaganda institucional do governo.

Entre janeiro de 2007 e setembro de 2013, o governo Cabral gastou 715 milhões de reais na rubrica “Serviços de comunicação e divulgação”, de acordo com dados do Sistema de Administração Financeira para Estados e Municípios. “Isso é só o que foi gasto para divulgar o que ele fez no governo. É uma média de 100 milhões por ano, o equivalente ao orçamento anual inteiro de um município de pequeno porte”, disse o deputado tucano Luiz Paulo da Rocha.

Mesmo diante das viagens cada vez mais frequentes ao exterior, ou dos impropérios disparados em público – como chamar médicos faltosos de “vagabundos e safados” –, ele parecia reagir com naturalidade. “Sofro por estar fora, mas tenho que vender o Rio”, disse em uma ocasião. “O presidente Lula também é criticado por isso. Então, estou em boa companhia.” No final do primeiro ano de governo, Sérgio Cabral havia passado uma média de um a cada seis dias fora do Brasil. A euforia aumentou com a economia a todo vapor, as promessas do pré-sal, a Copa do Mundo, as Olimpíadas. O Rio voltou ao primeiro plano. Sem percalços, Cabral elegeu em 2008, em primeiro turno, seu candidato a prefeito da capital, Eduardo Paes. A amigos, ele nunca escondeu o sonho de ser o vice na chapa da reeleição de Dilma em 2014.

Corria o 23º dia do “Ocupa Cabral” na esquina da avenida Delfim Moreira com a rua Aristides Espínola, no coração do Leblon, o metro quadrado mais caro do país. A 100 metros do apartamento de Sérgio Cabral, seis barracas de camping, uma extensa cobertura de lona preta e outra tenda branca tomavam conta de parte da calçada e de uma faixa da avenida, criando um funil para o trânsito. No entorno, havia cadeiras, bancos, espelhos, isopores, uma quantidade industrial de cobertores sujos e embolados, faixas de protesto e uma caixa de som profissional conectada a um gato feito no poste de luz. Ouvia-se música eletrônica quase o dia inteiro.

Era um final de tarde e cerca de trinta pessoas davam conta da rotina diária do acampamento. Um rapaz magro, sardento e articulado, apresentou-se como Bruno Cintra, mais conhecido co-moBruno Ruivo. Um dos coordenadores do Ocupa, ele segurava o livro Constituição Federal para Concursos e teclava em um iPad, cedido aos manifestantes por um estudante da Pontifícia Universidade Católica, morador do Leblon. Cintra me mostrou o histórico dos dias de ocupação, organizado como numa tabela Excel, e depois contou como nasceu o movimento. Segundo ele, no final de junho, “o Pepe, o Maicon e o Zeca” estavam em um bar e assistiam a um pronunciamento de Dilma Rousseff em rede nacional. “Uma hora ela mencionou a baderna em relação aos protestos. Aí, eles falaram: ‘Baderna? Vamos dar uma lição neles’”, contou. No mesmo dia, divulgaram pela Mídia Ninja e pelas redes sociais que se instalariam na porta do governador. O maior dos atos organizados por eles reuniu 4 mil pessoas na rua de Cabral. Dez dias depois, a polícia desmontou as tendas na marra e prendeu um dos que protestavam.

Em menos de um mês, eles estavam de volta. Dessa vez, sem previsão de ir embora. Um rapaz com o capuz preto do moletom enterrado na cabeça interrompeu a conversa. “Me dá aí o iPad, meu”, disse. “Combinei de encontrar uma mina, libera aí para eu ver se ela mandou mensagem no meu Facebook.” A contragosto, Ruivo lhe passou o tablet. Uma dupla de jornalistas italianos fotografava tudo. Outro repórter, um afegão com uma filmadora a tiracolo, aproximou-se e Ruivo se dirigiu a ele em inglês fluente. Cintra me disse ser estudante universitário e morar na Zona Sul com o irmão, que “tinha trabalho, todo certinho”.

Passaram pelo acampamento estudantes, desempregados, indolentes, trabalhadores, curiosos, mendigos, adictos, sem-teto, moradores dos vizinhos Morro do Vidigal e da Rocinha, rebeldes com e sem causa, neo-hippies, militantes de partidos e os black blocs. No auge da ocupação, a população flutuante chegava a quarenta pessoas de dia, reduzia-se à metade durante a madrugada e dobrava nos fins de semana. Dividiam-se em grupos: segurança, mídia e mobilização, limpeza, estratégia política e materiais. Cintra era da estratégia política. Um rapaz, chamado de Islã, era o chefe da segurança. Usava jaqueta de couro preta mesmo nos dias mais quentes e ficava sentado horas a fio em uma cadeira de praia.

Eles haviam feito um acordo com os seguranças do Posto 12, em frente à praia, para, por 50 reais por dia, usar o banheiro e o chuveiro à vontade. Ao público em geral, custa 2,80 por pessoa a cada vez. As baterias dos celulares eram carregadas em portarias de prédios da orla por zeladores, que se ofereciam para a tarefa. Na hora das refeições, contavam com doações de vizinhos ou cada um se virava para comer o que desse.

O dia passava na modorra. Conversavam entre si, falavam para as câmeras da mídia alternativa sobre qualquer coisa o tempo todo, pediam dinheiro para motoristas, iam até o mar, voltavam com olhos vermelhos, rindo muito, entoavam gritos de guerra contra Cabral, dançavam como numa festinha ao ar livre. Boa parte do tempo era usada para discutir uma maneira de engrossar algum protesto ou cultivar o desprezo por inimigos comuns: a imprensa – as Organizações Globo, em particular –, o governo e o capitalismo. A maioria fazia questão de parecer enfastiada com a presença dos jornalistas. Como uma Greta Garbo voluntariosa, a black bloc conhecida por Emma, que estampou a capa da revista Veja, dispensava pedidos de entrevistas. “Não tenho mais nada para falar.” Por três vezes, perguntaram-me se eu era da “mídia burguesa”.

Luiza Dreyer tem 23 anos, estudou no tradicional Colégio Santo Inácio, mora com a mãe no bairro do Flamengo e trancou a faculdade na PUC. Estava acampada desde o primeiro dia e, uma vez por semana, voltava para casa para pegar roupas limpas ou “lavar o cabelo direito”. Ela estendia camisas e shorts masculinos em um varal improvisado, preso a duas árvores no canteiro da avenida. “Olha o tanto de coisa que conquistamos. O Cabral voltou atrás em várias decisões porque fomos lá e brigamos. Isso mostra nossa força. Agora ele vai ter que dizer cadê o Amarildo!”, disse, referindo-se ao sumiço do ajudante de pedreiro, que se suspeitava ter sido morto por policiais na Rocinha. Perguntei se pensavam que o movimento poderia se institucionalizar e, eventualmente, virar um partido. “Não estamos pensando nisso agora. O objetivo hoje é efetuar as mudanças e tirá-lo do governo.” A moça, que também era assídua da Marcha das Vadias, disse que a mãe ficava preocupada com sua ausência, mas que “agora entendia a importância de participar dos protestos”.

Um carro da Globosat ficou preso num extenso engarrafamento na Delfim Moreira. “É a Globo, é a Globo, vamos lá!” Uns saíram correndo, outros pegaram balões a gás recheados com tinta, um black bloc tirou um spray laranja de dentro de uma barraca. “Foda-se a Globo!”, ouvia-se. Minutos depois, voltaram com ar satisfeito. Contaram ter pichado todo o carro e disseram que o motorista havia ficado com medo. “Falamos para ele que não era nada pessoal”, explicou-me um rapaz magro de barba por fazer.

No final da tarde, apareceu Ernesto Fuentes Brito, guru dos acampados, que usava uma boina a la Sierra Maestra. Filho do historiador Elinor Mendes Brito – um dos setenta presos políticos trocados pelo embaixador suíço Giovanni Bucher, sequestrado pela Vanguarda Popular Revolucionária, em 1970 –, ele tem 36 anos, nasceu no Chile, onde o pai ficou exilado e é professor de biologia. Estava desempregado havia três meses. “Fui demitido por minhas ideias, mas também porque eu queria uma vida mais libertária”, contou. Desde então, havia passado a organizar atos e manifestações pela cidade contra o governo Cabral. Ele contou manter um apartamento na Zona Norte, cujas despesas de manutenção eram pagas com suas economias. “Eu tenho uma reserva”, disse-me.

Sentado na calçada, Fuentes apontou um black bloc que rebolava agachando-se até o chão ao som da Gaiola das Popozudas em companhia de outros cinco manifestantes. “Veja aquele garoto.É negro, pobre, encontrou um lugar para ser libertário e viver como quer”, disse, professoral. “Ele não é morador de rua. Ele escolheu morar na rua, é diferente. Isso é um ideal, é muito importante.” Oblack bloc começou a gritar “Vai se foder” para um carro. “Peralá, isso não!”, Fuentes lhe chamou a atenção de longe. “Foi mal, foi mal”, respondeu o rapaz.

Por alguns minutos, o professor passou a discorrer sobre a luta de classes e como a imprensa, os bancos e os governos têm uma agenda que jamais beneficiará a maioria. De um utilitário preto, um playboy segurando uma latinha de cerveja buzinou e acenou para os manifestantes. “É isso aí! Fora, Cabral!” Com um sorriso contido, Fuentes comentou: “Isso é bem Bertoldo.” Fiz cara de interrogação. “Bertoldo Brecht. É a coisa do motorista e do patrão. Quando bebe, fica legal e justo, é capaz de oferecer a filha para o motorista. Mas quando baixa o teor do álcool, o abismo social volta com força”, disse em referência à peça O Senhor Puntilla e Seu Criado Matti. “Quando a elite bebe, vem aqui, abraça a gente... Depois, quer distância”, concluiu.

Um ônibus se ateve no engarrafamento e um passageiro passou através da janela uma faixa em que se lia “Fora, SérgioCabral e Eduardo Paes. Respeitem o povo!”, o que provocou uma ovação dos manifestantes. O painel foi instalado entre as barracas. Em meia hora, doze carros pararam e deram alguma contribuição em dinheiro para o grupo.

No começo da noite, mais de cinquenta pessoas circulavam pelo local. Aproximou-se um garoto de 20 anos, usando jeans, tênis e carregando uma mochila. Chamava-se Bruno, era estudante de geografia da puc e estava cansado da “vida burguesa”. Durante vinte minutos, entoou uma cantilena de problemas com o pai rico, que não aceitava que ele fizesse geografia, que sua vida era vazia e superficial. Fuentes ouviu com atenção e, ao final, o aconselhou a voltar para a faculdade. Logo em seguida, um homem negro lhe trouxe um copo de café quente. Era funcionário da obra do metrô, a 500 metros dali, e dormia todos os dias no acampamento. “Ele mora em Nova Iguaçu. Ganha 100 reais por dia e gasta 27 de passagem, não vale a pena voltar para casa. Antes de a gente estar aqui, ele dormia sob uma marquise. Agora, está aqui com a gente”, explicou Fuentes.

Luiza Dreyer apareceu com a expressão de felicidade. Havia disponibilizado sua conta bancária pessoal para doações e tinham feito um depósito de 700 reais. De quem? “Não sei, colocaram! Ótimo, vamos fazer vários investimentos em arquitetura aqui, comprar mais barracas e botijões de gás”, comentou. Todos os acampados com quem conversei durante os quatro dias que estive no Ocupa Cabral negaram receber pagamentos de grupos ou partidos políticos. “Falar que recebemos de alguém é uma maneira baixa de desmerecer nossa ação”, comentou Fuentes.

A reeleição de Cabral teve o clima de verso de Baudelaire: lá, onde tudo é ordem e beleza/ luxo, calma e volúpia .As UPPs eram uma vitrine mundial e sombreavam os baixos índices nas áreas de saúde e educação. Porém, a conjuntura estava diferente. Afastado da vida política para tratar do câncer na laringe, Lula já não era um parceiro presente. De sua parte, Dilma nutria pouca simpatia pelo jeito galhofeiro do governador. Lembrava-se com desprezo de um vídeo gravado no Carnaval em que apareciam juntos – ele, bêbado, enrolando um inglês incompreensível –, quando ela ainda era candidata. Ela gostava era de Pezão, que considerava sério, competente e trabalhador.

Havia pegado muito mal o sumiço de Cabral quando das enchentes de janeiro de 2011 na serra fluminense, que mataram quase mil pessoas. No ano anterior, diante da mesma tragédia, ele só tinha aparecido dias depois, quando culpou a prefeitura dos municípios atingidos. Mas, ainda que a economia desse os primeiros sinais de que iria desandar, Cabral conservava a maré de estabilidade. “Aí acontece o incontrolável, o inesperado, o que abalou tudo: o acidente de helicóptero na Bahia”, lembrou o vereador Cesar Maia.

Em junho de 2011, Sérgio Cabral, familiares e amigos tomaram emprestado o avião particular do empresário Eike Batista para ir à festa de aniversário do empreiteiro Fernando Cavendish, que tinha contratos de mais de 1 bilhão de reais com o governo, parte deles sem licitação. O governador vivia um momento de euforia, sobretudo na vida pessoal. A turma desembarcou do jato de Eike em Porto Seguro, na Bahia, e pegaria um helicóptero até Trancoso, um voo de dez minutos. Como havia muitos convidados, os homens deram prioridade às mulheres e crianças. A aeronave caiu no mar cinco minutos depois da decolagem. No acidente, sete pessoas morreram. Entre elas, a namorada do filho do governador; a cunhada, Fernanda Kfuri, e a mulher de Cavendish, Jordana; e o filho dela, o menino Lucas Kfuri de Magalhães Lins, neto do executivo José Luiz de Magalhães Lins, figura destacada da elite brasileira, articulador político e responsável pela consolidação do Banco Nacional, que, com sua saída, foi à bancarrota.

A criança era o alento do patriarca, que lidava com outra tragédia particular. O pai do menino – seu filho predileto, José Luca – sofria de um grave câncer. A notícia da morte da criança devastou os parentes. Logo depois do acidente, os Magalhães Lins chamaram o advogado carioca Nelio Machado para uma reunião na casa da família no bairro do Humaitá. Parte deles queria responsabilizar criminalmente Sérgio Cabral e Fernando Cavendish pela tragédia. Naquela mesma noite, desistiram da ideia. Destruído pela perda do filho único, José Luca chegou a interromper o tratamento de quimioterapia. Um ano e meio depois, ele sucumbiu à doença.

À medida que as notícias e os corpos iam sendo encontrados em alto-mar mais detalhes vinham à tona. Soube-se que o voo foi feito à noite, chovia, havia densa neblina e o piloto do helicóptero estava com o brevê vencido havia cinco anos. Também que a mulher de Cabral, que estava no Rio, ignorava a viagem. O governador foi ao enterro da nora e depois se isolou em Mangaratiba. Como resposta institucional à tragédia, baixou uma norma para si próprio: lançou com alarde um Código de Conduta Ética para o servidor público regulamentando a proibição de receber presentes e vantagens no exercício do cargo.

“O acidente desnudou o que sempre foi a principal característica do governo dele: a relação promíscua entre o público e o privado”, comentou o deputado estadual Marcelo Freixo, do PSOL, em uma tarde recente. “O Cabral é um psicopata, que não tem sentimento de culpa por nenhuma das coisas bizarras e absurdas em que ele se envolve. Ele se comporta como se não fosse nada com ele.” Logo em seguida, Cabral e Adriana Ancelmo homologaram o divórcio, que durou quarenta dias. No outro ano, o casal renovou os votos numa cerimônia no Palácio Laranjeiras, cujos padrinhos postiços foram Lula e Dilma, que estavam na cidade para uma solenidade pública.

Quase um ano depois, em abril de 2012, o deputado federal e ex-governador Anthony Garotinho publicou em seu blog uma série de fotos, tiradas em Paris, quando Sérgio Cabral, acompanhado de uma comitiva de 150 pessoas, desembarcou na capital para receber a Legião de Honra pelo Senado francês. Nas fotos, Fernando Cavendish aparece abraçado a secretários de estado com guardanapos amarrados na cabeça. Em outra série, Cabral e a turma dançam funk ou algo do gênero agachados em frente a um cantor. Noutra, Cavendish, o empresário George Sadala, concessionário do Poupatempo no Rio e em Minas, mais os secretários de Saúde e de Transportes (Sérgio Cortes e Wilson Carlos) estão no restaurante do hotel Ritz de Paris. Há também a cena das respectivas mulheres exibindo a sola de sapatos da grife Christian Louboutin.

Depois de quase um mês em silêncio, Cabral respondeu não manter relações escusas com o empreiteiro, seu amigo de longa data.

"O pior é que o Sérgio Cabral foi o melhor governador que o Rio já teve”, disse Jorge Picciani, presidente do PMDB fluminense, durante um jantar em um restaurante na Barra da Tijuca, em agosto. “Essas críticas são injustas. Ele tem sensibilidade social, um histórico de melhorias para a população, para o Rio e para a democracia. Essa coisa mesmo de acabar com voto secreto, ele fez isso na Assembleia há muitos anos”, comentou.

Alto, corpulento, com bochechas macilentas e voz gutural, Picciani lembra um personagem de desenho da Pixar. Calado, parece mais ameaçador do que quando conversa, em tom amistoso e gentil. Tinha o cabelo cortado à escovinha, usava jeans, camiseta, blazer de linho e um mocassim branco. Ele é considerado “o dono do PMDB do Rio”.

O problema de Cabral, segundo Picciani, era mais complexo. “A pessoa física interferiu na jurídica”, disse. Passando os olhos no cardápio, ele comentou: “Eu sou da roça. Eu não gosto de viajar. Esse negócio de 200 pessoas, bebida, deslumbramento. Ali foi o novo-riquismo, a soberba”, falou. Ele classificou de “falta de sorte” a amizade de Cabral com Cavendish, que tinha negócios com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. “Uma empresa que estava estabelecida no Rio muito antes do governo dele”, afirmou.

Na avaliação de Picciani, a imagem do governador será recomposta em breve, mas é preciso uma mudança urgente na maneira de vender sua imagem. “Os programas de tevê dele são um horror. A gente combina uma coisa, sai outra”, comentou. Na véspera, a propaganda do PMDB estadual mostrou obras, tratores, trabalhadores, túneis. Não se fez menção ao nome ou à imagem de Cabral. Segundo Picciani, o combinado era comparar o governo Cabral com o de Benedita da Silva, do Partido dos Trabalhadores, usando imagens do traficante Fernandinho Beira-Mar rindo ao ser preso. “Ia mostrar como mudou a segurança. Isso é o que melhora a imagem dele! Aí, você liga a tevê e é tudo o contrário”, disse. Os programas são feitos pela agência Prole, a mesma responsável pelas inserções de Aécio Neves, e aprovados pelo governador.

Picciani passou a se mexer na cadeira como se tivesse sido acometido por uma crise de coceira. “Ai, esse sapato estava me apertando demais”, disse, aliviado, ao se livrar de um deles por debaixo da mesa. Falou-se sobre as manifestações populares contra o governo e ele afirmou que os acampados na rua de Cabral eram financiados por partidos políticos, como o PR e o PSOL. “É coisa paga, encomendada. Os adversários se aproveitaram dos protestos nacionais e se uniram.”

O Partido dos Trabalhadores, segundo ele, havia estimulado a maré de críticas. Com a queda de Cabral nas pesquisas, o senador Lindbergh Farias, do PT, aproveitou o momento para impor sua candidatura à sucessão, ainda quea aliança nacional entre os dois partidos se esfacelasse no Estado. “Eu estou doido para que eles rompam conosco aqui no Rio”, disse Picciani em tom de blague, referindo-se ao PT. “Porque estou louco para apoiar o Eduardo Campos”, comentou, sarcástico, na saída do restaurante.

Quando entrou no amplo gabinete no Palácio Guanabara, Cabral leu em voz alta uma notícia estampada na tela do computador de sua mesa. “Ixi... ‘Atirador de Washington ouvia a voz de Deus’... Ai, meu Deus”, comentou. Ele se dirigiu a uma grande porta e, como um Luís XIV em seu Versalhes particular, empurrou-a deixando os dois braços estendidos na altura do peito. “Olha que bonito esse jardim. Foi restaurado por nós”, disse-me. Uma larga aleia de centenárias palmeiras imperiais circundava um chafariz com a imagem de Netuno e esculturas de crianças montadas em peixes num idílico cenário emoldurado por Mata Atlântica nativa. “Vamos dar uma volta”, sugeriu.

Aos 50 anos, Cabral emagreceu, está bronzeado, mantém o senso de humor aguçado e o indefectível sopro juvenil. Durante a caminhada, ele enumerava as conquistas de seu governo, como havia feito no seminário pouco antes. “Como se fala em improbidade e corrupção num governo que ganhainvestment grade, que é premiado a toda hora na gestão das finanças?”, indagou. Interrompi-o dizendo que seu problema era o voo do Juquinha e o guardanapo na cabeça. “Eu não apareço em foto nenhuma de guardanapo. Taí, ó. Essa é uma das tentativas de estigmatizar”, disse.

Quando as manifestações tomaram corpo nas ruas, Cabral passou a rever medidas impopulares, como a demolição de um parque aquático e uma escola, que desapareceriam com as obras da Copa e da Olimpíada. Devolveu dinheiro de diárias de viagens privadas e derrubou uma resolução que proibia bailes funk nasfavelas pacificadas. Também sancionou uma lei que vetava mascarados em protestos de rua. No meio da confusão, uma reportagem da Veja mostrou que helicópteros do governo eram usados para levar o governador, sua mulher, seus filhos, babás e até o cachorro da família, o Juquinha, para Mangaratiba. Cabral respondeu às críticas dizendo não estar “fazendo nenhuma estripulia”. Dias depois, pela segunda ocasião, valeu-se de um código de ética. Dessa vez, decidiu disciplinar o uso de aeronaves no serviço público.

Durante nosso passeio pelos jardins do Guanabara, ele argumentou que um governante pode e deve usar helicóptero por questões de segurança. “Ainda mais nós que combatemos tanto a criminalidade”, disse. Passarinhos piavam forte, ele olhou para o céu como se os procurassee emendou: “E o Juquinha, pelo amor de Deus, é um cachorrinho desse tamanhinho, e é do meu filho”, disse afinando a voz e juntando as duas mãos espalmadas no ar. “Sempre foi voo de família, meus filhos junto. Nunca foi só babá com cachorro. É segurança da minha família”, emendou. Quando citei que até um cabeleireiro havia declarado ter voado para atender a família em Mangaratiba, ele cerrou as sobrancelhas e me olhou como se eu estivesse falando javanês. “Ah, isso foi uma vez que ele pegou carona com alguém. Comigo, sei lá, o que é isso! Pelo amor de Deus, não teve isso!”

Um funcionário o parou para falar mal do secretário de Educação. Quando ele se afastou, eu quis saber sobre as diárias recebidas em viagens particulares, pelas quais ele recentemente reembolsou o erário. “Isso foi um erro burocrático. Houve dois ou três casos. A gente explica, mas o repórter vai lá e põe. Eu vou responder? Eu vou brigar com repórter? Eu sou jornalista, pô!” Ele caminhava lentamente e tinha um tom de voz firme, de quem não duvida por um segundo do que está dizendo. “Tem essa estigmatização, isso reverbera em nichos... Tem artista que não gosta de mim. Eu sou admirador do Caetano Veloso, mas ele escreve contra minha administração. Vou desgostar dele, que compõe aquelas músicas extraordinárias? Mais uma vez, é o que eu digo: to-le-rân-cia.” Diante de uma frondosa árvore que nos dava uma sombra refrescante, ele arriscou a hipótese de que talvez tivesse se importado mais com gestão do que com política. “É verdade, eu curto gestão.” Perguntei o que ele diria a quem aposta que ele está morto e Pezão inviabilizado. “Nada!” Insisti. “Digo que eleição e mineração só depois da apuração.”

Assim que as fotos e os vídeos de Cabral, Cavendish e amigos no exterior vieram a público, passou-se a especular sobre quem os teria vazado. Correu na cidade a versão de que teria sido a sogra de Cavendish, que teve duas filhas e dois netos mortos no acidente. Ou que a própria família Magalhães Lins teria viabilizado a divulgação. “Não tem nada de sogra do Cavendish”, disse o deputado Anthony Garotinho, potencial candidato ao governo do Rio, em uma noite de agosto, no seu gabinete na Câmara Federal, em Brasília.

De acordo com Garotinho, as fotos foram copiadas do computador de Jordana Kfuri, mulher de Cavendish, por um amigo dela. “Por coincidência, esse sujeito estudava na mesma faculdade de um funcionário do meu programa de rádio, na Manchete”, contou. O rapaz, que por dever de ofício tinha acesso aos arquivos, se dizia “indignado” com o tratamento dado aos parentes das vítimas e responsabilizava Cabral e Cavendish pelo acidente. “Aí, ele deu o arquivo para o meu funcionário, que me trouxe o pen drive. Quando eu abri as fotos, eu não acreditei”, comentou.

A primeira leva foi divulgada no blog do deputado no auge da CPI do Cachoeira, que investigava as ligações da Delta com o contraventor Carlinhos Cachoeira. De acordo com a Comissão, Cavendish era suspeito de utilizar sua construtora para repassar dinheiro, por meio de laranjas, a pessoas ligadas ao esquema do bicheiro. Em troca, ganhava prioridade nas obras estaduais. “Ali eu vazei para pressionar o Congresso para convocar o Cabral para a CPI, mas a blindagem do governo foi mais forte”, comentou Garotinho. Foram convocados os governadores Agnelo Queiroz, do PT do Distrito Federal, e o tucano Marconi Perillo, de Goiás. Fora a amizade com Cavendish e os gordos contratos da empresa com o governo, Cabral não havia sido citado em nenhum grampo da investigação. Mas o deputado Cândido Vaccarezza, do PT, foi flagrado mandando uma mensagem de texto tranquilizando Cabral. “Você é nosso e nós somos teu”, escreveu.

“São 300 fotos, nós vazamos cinquenta. Tem muita ainda, tem para todos os gostos e públicos”, continuou Garotinho com a voz empostada de locutor de rádio. Eu quis saber se ele havia feito muitas cópias do material. “Eu ando com isso no meu bolso, minha querida. Não está em cofre, não tem cópia, eu não confio em ninguém”, disse, afastando o corpo da mesa, deslizando a cadeira de rodinhas para trás. Ele se abaixou e tirou um pen drive preto da pasta de mão, que estava no chão. “Tá tudo aqui, ó. Tem foto com empreiteiros, com fornecedores do governo, gente que não deveria estar junto, entende? São várias viagens.” Quando pedi para que me mostrasse, ele deu uma risada sarcástica. “Todo mundo vai ver tudo. Mas no momento certo”, afirmou, colocando o dispositivo no bolso da camisa.

Garotinho comentou estar esquadrinhando os contratos da banca de advocacia da mulher do governador. Ela é sócia majoritária do escritório Coelho & Ancelmo, que tem como clientes o Metrô do Rio, a Supervia e o Grupo Facility, com contratos de mais de 1,5 bilhão de reais com o governo estadual. Antes de Cabral assumir o cargo, apenas 2% do faturamento do escritório tinha origem em concessionárias e prestadoras de serviço para o estado. Atualmente, são 60%.

Às dez da noite Garotinho continuava elétrico. “Vamos ver os vídeos! Faz tempo que não vejo!”, sugeriu. Abriu o iPad e achou no YouTube as gravações que haviam vazado. “Ai, esse é ótimo!”, comentou. Na tela, via-se o grupo ao redor de uma mesa de um restaurante de hotel sob o olhar aturdido de um garçom, que segurava um bolo. “Olha, agora eles vão cantar ‘Com quem será’, olha o que o Cabral vai fazer!”, disse com a animação de uma criança. Os convivas entoaram a música e Cabral levantou o braço como que para chamar a atenção para si na filmagem. “Vai depender, vai depender...”, ouvia-se. Teatralmente, Garotinho se levantou da cadeira e passou a imitar os gestos e cantar em uníssono com o governador, que encarava a câmera. “Se o Serginho vai querer!”, repetiu o deputado antes de explodir em uma gaitada. “Depois, eu que sou provinciano, eu que sou da turma do chuvisco”, disse, ainda, em gargalhada. “Esse Sérgio Cabral é o maior mico que o Rio de Janeiro já teve.”

Nos jardins do palácio, Cabral continuava a caminhada peripatética. Falou-se sobre o sucesso do escritório de advocacia de sua mulher. “Olha que interessante, eu estava refletindo outro dia: normalmente os políticos são agredidos por botar a mulher na assistência social. Há vinte anos, minha mulher tem esse escritório que...” “Cresceu horrores no seu governo”, completei. Com um tom de voz sério, ele retrucou que jamais pediu favores em nome dela: “Nunca me meti nos assuntos do trabalho dela e não vai ser agora. É até covardia contra o mérito dela e dos sócios.”

Comentei que havia quem apostasse que, se o helicóptero não tivesse caído na Bahia, ele estaria firme no jogo sucessório. Cabral lembrou que, antes dos protestos, ou seja, bem depois do helicóptero e do guardanapo, a aprovação a seu governo era de 45%. “O Eduardo Paes foi reeleito com 64% dos votos caminhando do meu lado. Nas eleições de 2012, estive em vários palanques.” De novo, minimizou o caso: “Nunca escondi a minha amizade com o Cavendish, que é anterior ao governo e que não tem nada a ver com o problema que ele teve no Centro-Oeste”, defendeu-se.

Uma análise da revista inglesa The Economist atribuía a queda vertiginosa na popularidade de Cabral a uma percepção na fragilidade da política de enfrentamento da violência. O desaparecimento do pedreiro Amarildo na Rocinha e a morte de nove pessoas no Complexo da Maré, assassinadas por policiais, teriam contribuído para isso.

O celular de Cabral tocou. Era Dorita, chefe de gabinete, dizendo que estava atrasado para a reunião. Foi quando ele se deu conta de que segurava um livro de fotos do Palácio Guanabara desde o início do passeio, como uma bolsa ou uma pasta. “Nem me toquei”, disse, oferecendo-me o presente. Ele se despediu com dois beijinhos, mas antes concluiu o raciocínio. “Nem todas as críticas foram equivocadas, é preciso refletir sobre elas, mas as pessoas vão perceber que o governo briga para descobrir onde está o Amarildo. Vão ouvir a empregada doméstica que mora na Cidade de Deus contar que a vida dela melhorou muito”, afirmou. “É um processo, há que se entender isso. Mas uma coisa que eu não sou é soberbo. Isso não. Não tem cara mais humilde do que eu. Quem me conhece sabe”, disse.

Era noite quando a primeira das oito barracas foi desmontada. No começo de setembro, depois de 36 dias instalados no Leblon, os manifestantes do Ocupa Cabral levantaram acampamento. À imprensa, disseram que iriam se preparar para os atos de 7 de setembro. “Começou a encher de mascarados no Ocupa, a coisa foi ficando com um tom diferente do que era no começo. Depois veio a lei que proibia usar máscara. Se os mascarados ficassem lá, a ordem era tirar todo mundo do acampamento... Então, eles saíram antes”, disse-me dias depois, por telefone, André Cintra, irmão de Bruno Ruivo, que – como todos os outros manifestantes com que conversei – estava incomunicável. “O meu irmão diz que eles só estão de férias, não estão desmobilizados. Que isso está longe de terminar, mas o estrago no Cabral já está feito”, completou.

Dias depois, no escritório de Jorge Picciani na Barra da Tijuca, um grupo da base governista comemorava a desocupação na porta de Cabral. Um deputado estadual apostava numa possível bonança, falava mal dos candidatos à sucessão e se mostrava confiante na eleição de Pezão. “Nós temos a máquina, temos gente, dinheiro e sabemos fazer campanha”, comentou, pedindo anonimato porque almejava um cargo público. De cabeça, passou a cantar os números de uma pesquisa do partido, que colocava na liderança da disputa o ministro da Pesca, Marcelo Crivella, do Partido Republicano Brasileiro, seguido por Lindbergh Farias, com 17%, Garotinho, com 13%, e Pezão com 10% das intenções de votos.

Segundo ele, a ira contra Cabral não havia atingido o vice. Pezão, ele disse, tinha “o passado limpo”. “Ele não tem calo, tem calinho, não pega nada”, comentou. O “calinho” era a desapropriação da casa de uma parente – feita quando Pezão foi governador interino –, vendida ao estado em regime de urgência por um valor muito superior ao do mercado.

O plano era Cabral deixar o cargo em dezembro para que Pezão se beneficiasse o quanto antes das inaugurações previstas para o ano que vem. Segundo Picciani, o governador melhoraria nas pesquisas e sua saída antecipada não teria ar de fuga. “O Pezão tira os cinco principais secretários, põe gente dele, cria uma marca própria. Vai continuar com o Beltrame [secretário de Segurança Pública], que é um sucesso”, disse. A ideia também era acomodar Cabral em um ministério, já que uma candidatura ao Senado poderia ser arriscada. As negociações estavam adiantadas com o Palácio do Planalto. De Brasília, veio a sugestão de abrigá-lo na pasta do Turismo. Ele não gostou. Achou que se tratava de uma piada.

Fonte: Rio 247